Via Campesina lança campanha de ajuda a camponeses asiáticos

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Via Campesina lança campanha de ajuda a camponeses asiáticos

05/01/2005

Por Verena Glass
Fonte Agência Carta Maior

A rede mundial de organizações e movimentos de pequenos agricultores Via Campesina (VC) lançou esta semana uma campanha internacional de solidariedade e auxílio aos camponeses asiáticos, um dos grupos mais afetados pelas ondas gigantes que atingiram parte da Ásia no fim de 2004. Das mais de 70 organizações da Via Campesina em todo o mundo, 29 – entre comunidades de pescadores, extrativistas e agricultores – estão em 12 países do continente.

Segundo Rafael Alegria, membro da coordenação internacional da VC em Honduras, a organização constituiu uma comissão com representantes no País Basco, na Alemanha, na Noruega e na América Latina, que deve coordenar uma coleta de fundos a serem destinados diretamente às entidades asiáticas. Paralelamente, os coordenadores da VC na Europa, liderados pelo basco Paul Nicholson, devem se reunir com a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) e com a UN-Habitat (órgão da ONU para habitação e moradia) para pedir uma intervenção mais direta dessas entidades e das próprias Nações Unidas junto aos camponeses atingidos.

“Como a campanha da Via Campesina é recente, ainda estamos esperando reações dos parceiros mundo afora. Mas mais importante do que buscar apoio dos organismos da ONU aos agricultores, é criar um canal direto entre a solidariedade internacional e os atingidos, que não passe pela burocracia dos Estados e das Nações Unidas. Nos sentimos muito próximos aos camponeses afetados, o próprio secretário-geral da VC, Henry Saragih, teve dois netos mortos na tragédia. Muitas comunidades perderam tudo: insumos, sementes, ferramentas de trabalho. As águas e as terras estão contaminadas, os animais mortos. A campanha da VC visa socorrer imediatamente essa gente, com recursos para alimentação, moradia e recuperação das condições de trabalho, numa conexão direta com os nossos movimentos e organizações na região”, explica Alegria.

Aspecto político

De acordo com o documento de convocação da campanha da VC, o momento exige, alem de solidariedade, uma mobilização política no sentido ajudar as comunidades locais na luta por direitos e autonomia. “A filosofia de auxilio da Via Campesina é que nossas comunidades devem participar diretamente e ser os atores do processo de reconstrução, conferindo às organizações camponesas e de pescadores o papel de coordenação na mobilização e no apoio. (…) O êxito dos auxílios locais e organizados autonomamente pela sociedade civil local em desastres anteriores na América Latina, na África e na Ásia, em contraste com desmobilizadores e ineficientes programas impostos por governos, marcaram momentos cruciais no desenvolvimento de movimentos sociais em que os marginalizados assumem o controle de suas próprias vidas”, afirma o texto.

A organização também quer aproveitar o momento para exigir dos governos de países ricos, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial que anulem a dívida externa dos Estados atingidos por tsunamis. Segundo a VC, sem isso os governos locais não terão como socorrer as populações afetadas. Outra exigência da Via Campesina é que se paralisem todos os processo de desalojamento de pequenos agricultores que fazem parte da política agrícola de vários países da região.

“Se isso não ocorrer, podemos nos preparar para a onda expansiva de uma tsunami social, com outros centenas de milhões de vítimas de doenças e da fome, e dezenas de milhares de pessoas obrigadas a migrar”, conclui o documento.