Atingidos por barragens ocupam BID

Na tarde desta terça-feira, mais de 300 agricultores atingidos pelas barragens de Cana Brava e Serra da Mesa ocuparam a sede do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Brasília (DF). Os manifestantes exigem que o Banco pressione a empresa belga Tractebel Energia a tomar providências na indenização das famílias e na reparação das perdas sociais, econômicas e culturais geradas pela construção da barragem de Cana Brava. O BID foi o principal financiador da obra, que há três anos já está em operação no rio Tocantins, em Goiás.

Em virtude de pressões da sociedade civil organizada, o Banco fez algumas verificações na região para avaliar se as diretrizes de responsabilidade social haviam sido cumpridas pela Tractebel. Três relatórios já foram elaborados por comissões independentes contratadas pela instituição. Todos constataram as arbitrariedades da Tractebel no trato e no descaso com as famílias atingidas.

Nos últimos dias, a Tractebel anunciou a captação de R$ 200 milhões a instituições financeiras para pagar antecipadamente o empréstimo tomado junto ao BID para a construção da obra, no norte de Goiás. Para o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) é uma tentativa clara de desfazer-se dos compromissos com a população e das pressões do Banco. “Essa multinacional que veio trazer a desgraça para nosso povo deverá pagar pelo que fez. Agora está querendo se livrar de se suas responsabilidades, mas nós estamos organizados para cobrar tudo o que é de nosso direito”, diz Nazareth Pereira de Almeida, coordenadora do MAB.

“Nós estamos aqui no BID para exigir que o financiador também se responsabilize pelos danos causados, cobrando da empresa resultados imediatos a nosso favor. Há muito tempo a Tractebel lucra com esta barragem e o povo ficou a mingua”, completa Nazareth.

Estudos demonstram que, em função da barragem, muito focos de dengue foram encontrados na região, assim como a contaminação pela raiva animal de mais de 1500 cabeças de gado, segunda dados da vigilância de saúde animal do município de Minaçú (GO). O isolamento de comunidades e a falta de acesso à sala de aula a 150 crianças no município de Cavalcante, também atingido pela barragem, são outros pontos de denúncia do MAB.

Na semana passada, os manifestantes ocuparam a barragem Serra da Mesa e acamparam em frente ao portão de acesso à barragem de Cana Brava. Em Serra da Mesa as negociações avançaram entre o MAB e Furnas, estatal responsável pela barragem. Uma nova reunião entre o movimento e a empresa está marcada para amanhã.

Já a empresa Tractebel se negou a receber o MAB e na sexta-feira pediu a integração de posse da área do acampamento. Na sexta-feira, os manifestante se retiraram da área, evitando o confronto que na quarta-feira ocasionou a prisão de uma liderança do MAB.