Agricultura vive numa ”bolha de veneno” no Sul do Brasil

 

Da Agência Latino-Americana e
Caribenha de Comunicação (ALC)

 

Agricultores do centro-sul do Paraná e Planalto Norte Catarinense remeteram carta a autoridades estaduais e federais pedindo a intervenção e fiscalização na venda e aplicação de agrotóxicos na lavoura de fumo. “Estamos vivendo numa ‘bolha de veneno’ que contamina o ar, o solo, nascentes, lençol freático e alimentos”, alegam.

 

Da Agência Latino-Americana e
Caribenha de Comunicação (ALC)

 

Agricultores do centro-sul do Paraná e Planalto Norte Catarinense remeteram carta a autoridades estaduais e federais pedindo a intervenção e fiscalização na venda e aplicação de agrotóxicos na lavoura de fumo. “Estamos vivendo numa ‘bolha de veneno’ que contamina o ar, o solo, nascentes, lençol freático e alimentos”, alegam.

Famílias de agricultores da região denunciam a violação ao direito de livre escolha do sistema de produção. Eles apontam o uso indiscriminado do veneno Gamit na cultura de fumo, fabricado pela FMC Corporation.

“Afirmamos que os técnicos das empresas fumageiras presentes na região, por meio de receituário agronômico, receitam tais venenos aos fumicultores, que são obrigados a utilizá-lo em decorrência de obrigações estipuladas nos contratos com aquelas empresas”, alegam os agricultores.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento recomenda o uso do Gamit a uma distância mínima de 800 metros de outras culturas, quando, nas lavouras de fumo, essa distância é de 50 metros das culturas de girassol, milho, pomares, hortas, viveiros, jardins, arvoredos na região.

Das 140 famílias de agricultores que vivem e produzem no município de São João do Triunfo, no Paraná, apenas quatro não plantam fumo.  Agricultores da região constatam a morte de pássaros, peixes, plantas nativas, árvores frutíferas que “abortam” frutos, e até mesmo samambaias cultivadas dentro de casa não resistem aos efeitos do Gamit.

No início do mês, mulheres da Via Campesina deflagraram a Jornada de Lutas contra a Violência do Agronegócio, pela reforma agrária e soberania alimentar. As mobilizações integraram a programação do Dia Internacional da Mulher, lembrado na terça-feira, 8.

O uso excessivo de agrotóxicos nos campos brasileiros deve-se, também, ao modelo de produção do agronegócio, alertaram as cerca de 5 mil mulheres que protestaram em vários pontos do país.

No Rio de Janeiro, 300 camponesas ocuparam, na quinta-feira, 3, a sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), denunciando os altos investimentos e empréstimos do banco estatal à indústria dos agrotóxicos e transnacionais da agricultura que usam os venenos.

Dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola, o Brasil é, desde 2009, o primeiro na lista de países consumidores de agrotóxicos, com a utilização de mais de um bilhão de litros por ano.

Em entrevista ao repórter Enric Llopis, do sítio Rebelión, a pesquisadora Esther Vivas, do Centro de Estudos sobre Movimentos Sociais da Universidade Pompeu Fabra, de Barcelona, alertou sobre a primazia do capital privado ao impor gostos, marcas e produtos.

“Comemos o que as grandes empresas do setor querem”, declarou. Ela frisou que “o modelo de produção de alimentos antepõe interesses privados e empresariais às necessidades alimentares das pessoas, sua saúde e respeito ao meio ambiente.”

Não é preciso produzir mais para acabar a fome no mundo, como dizem organismos internacionais, mas de “democratizar os processos produtivos e propiciar que os alimentos estejam disponíveis para o conjunto da população.”