Assentamento produz 40 tipos de hortaliças sem agrotóxicos
Do Portal Comunitário de Ponta Grossa
Após dois anos de trabalho na horta coletiva do pré-assentamento Emiliano Zapata, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o projeto “Fortalecimento da Agricultura Familiar Agroecológica”- coordenado pelo professor do Departamento de Agronomia da UEPG, Marcelo Romano, com o apoio da Universidades Sem Fronteiras e da Incubadora de Empreendimento Solidários (Iesol) – foi encerrado. A ideia é que a famílias participantes passam a cuidar sozinhas da organização, produção e comercialização dos produtos Chão e Vida.
Ao todo os moradores do pré-assentamento Emiliano Zapata, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), produzem mais de 40 tipos de hortaliças na horta coletiva, baseando-se nos princípios da agroecologia – livres de fertilizantes químicos e agrotóxicos, do projeto “Fortalecimento da Agricultura Familiar Agroecológica”.
As variedades são plantadas de acordo com a época do ano e entre os diferentes produtos cultivados estão: cenoura, brócolis, vagem, cebolinha, morango, entre outros.
Iniciativa coordenada pelo professor do Departamento de Agronomia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Marcelo Romano, com o apoio da Universidades Sem Fronteiras e da Incubadora de Empreendimento Solidários (Iesol), o projeto foi encerrado em novembro passado.
No início do projeto, 35 famílias participavam da horta coletiva, mas agora no final do ano, apenas 17 continuam com o trabalho. A moradora do Emiliano Zapata, Kátia Fuji, explica que algumas famílias desistiram da horta coletiva, pois perceberam que o lucro demoraria a vir e assim optaram por trabalhar em suas hortas individuais.
“Nós trabalhamos mais de um ano na preparação da terra, para poder plantar. Precisávamos de tempo para vir trabalhar na horta e não ganhávamos de imediato com isso. Por isso alguns desistiram”, explica Katia.
A renda mensal das famílias dos moradores do Zapata varia em torno de 300 a 1.600 reais, dependendo do quanto é produzido na horta individual. Junto com os estagiários do projeto, os trabalhadores que produzem as hortaliças “Chão e Vida” – nome escolhido pelos produtores – conseguiram 14 pontos de venda para as hortaliças.
Entre restaurantes, supermercados e feiras da cidade, quatro são os pontos fixos – Campus da UEPG de Uvaranas, às terças-feiras; Feira São José, às quartas-férias; e Campus Central da UEPG, às quintas-feiras pela manhã; e Feira do Produtor, no bairro Santa Paula, às quintas-feiras à tarde.
Com o fluxo de comercialização dos produtos, o lucro dos trabalhadores gira em torno de 100 reais por mês para cada família. Com o término do projeto, o único vínculo que os produtores das hortaliças “Chão e Vida” terão com a universidade, serão os pontos de venda.
No entanto, uma das metas do projeto, a construção de uma unidade de processamento para as hortaliças, não foi alcançada. “Infelizmente um dos nossos objetivos, a unidade de processamento, teve os recursos liberados apenas recentemente devido à burocracia.
O processamento mínimo terá que vir com outro projeto, já que os recursos não são 100% suficientes para acabar a construção. Mas os recursos da venda podem completar a construção que foi iniciada”, explica o coordenador do projeto e professor do Departamento de Agronomia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Marcelo Romano.
Avaliação
Das 35 famílias que participaram do projeto “Fortalecimento da Agricultura Familiar Agroecológica”, trabalho coletivo agroecológico no pré-assentamento Emiliano Zapata, apenas 17 continuam na proposta. Segundo Kátia Fuji, integrante da comunidade e participante da horta, muitas famílias desistiram porque no início o trabalho não resultava em nenhum retorno financeiro.
“O trabalho foi grande e continua sendo. A falta de retorno acabou desnorteando algumas famílias”, relembra Fuji, formada em Agronomia e participou do projeto desde o início das atividades.
A pré-assentada Maria Alice da Silva conta que aprendeu bastante com o projeto e espera que a renda da venda dos produtos aumente. “A quantia é pouca, mas ajuda. Agora vai ter mais tomate e pepino. O lucro vai subir um pouco”, diz.
O dinheiro proveniente da venda das hortaliças “Chão e Vida” é repassado aos moradores do Emiliano Zapata, integrantes da horta coletiva. O valor da gasolina para transportar os alimentos e das sementes é descontado do lucro antes dessa divisão.
Um dos participantes desde as primeiras discussões do projeto, Antônio Moreira, considera que a horta coletiva foi uma iniciativa produtiva.“Nós aprendemos várias coisas: a adubar, calcar, a fazer compostagem e barramento. Foi uma boa experiência”, diz.
Evolução
A horta comunitária do pré-assentamento Emiliano Zapata existe desde março de 2008. O primeiro projeto referente à horta consistia na preparação da terra, a organização do espaço que se tinha disponível, que é de um hectare. Na época, foi feito o convite a 58 famílias moradoras do Zapata para ingressarem nas atividades.
Como a proposta do projeto era a produção das hortaliças através dos princípios da agroecologia – que não se permite o uso de fertilizantes e agrotóxicos químicos – para a preparação da área, foi incorporada matéria orgânica ao solo.
Baseando-se na agroecologia, o projeto “Fortalecimento da Agricultura Familiar agroecológica”, coordenado pelo professora de Agronomia da UEPG, Marcelo Romano, desenvolveu um sistema de compostagem para fazer o adubo da terra.
“Tudo que nós aprendemos aqui aplicamos nas nossas hortas individuais. Um exemplo disso é que agora só uso a compostagem, que aprendemos a fazer na horta coletiva, como adubo na horta que tenho em casa”, conta o pré-assentado Antonio Moreira.
Hoje a horta comunitária possui uma estrutura muito diferente de seu início. Dentro do hectare que os trabalhadores têm disponível para trabalhar, foi construída uma estufa, um tanque de irrigação e a unidade de processamento das hortaliças começou a ser levantada.
“Acredito que após esse período do projeto, conseguimos ensinar o que pudemos aos trabalhadores. As técnicas que não conseguimos transmitir a eles, são oportunas para sem ensinadas em outros projetos que virão. Mas penso que eles estão capacitados para desenvolver o trabalho que desenvolvíamos juntos”, explica o professor Marcelo Romano.
Para Katia Fuji, agrônoma e moradora do Zapata há oito anos, o projeto já fez o que estava a seu alcance e agora os trabalhadores precisam continuar os trabalhos por si próprios. “Nós aprendemos tudo o que pudemos aprender. Estamos conseguindo produzir e comercializar os produtos. Agora precisamos caminhar sozinhos. No começo vai ser difícil, mas precisamos nos organizar e prosseguir com o trabalho”, diz Katia.
Produção e comercialização
A divisão do trabalho, a redução da interferência dos estagiários e o custeamento dos gastos do transporte e produção pelo lucro das vendas foram os primeiros indicadores do fim do projeto da UEPG no pré-assentamento. Agora, os participantes da horta coletiva terão que se responsabilizar pela organização do grupo, produção e venda dos alimentos agroecológicos Chão e Vida.
A moradora da comunidade e participante do projeto, Kátia Fuji, considera que a maior dificuldade será em relação à comercialização dos produtos. “A gente ainda não sentou pra pensar nisso, mas vai ser complicado. A gente tem uma dependência em relação a venda, no começo vai ser difícil”, diz.
Antônio Moreira também trabalha na horta coletiva e considera que a presença dos professores e dos estagiários auxilia na organização do trabalho. “Acredito que a produção não vai parar, mas talvez os rendimentos diminuam. O trabalho é mais pareio quando o pessoal esta aqui”, conta.
O professor coordenador do projeto que fortaleceu o desenvolvimento da agroecologia no Emiliano Zapata, Marcelo Romano, afirma que é importante que a produção da comunidade receba um olhar externo. “O acompanhamento é importante porque as questões técnicas estão evoluindo e podem ser aprimoradas”, defende.
A Incubadora de Empreendimentos Solidários (Iesol) continuará com atendimentos à comunidade e os campi da UEPG permanecerão como pontos de venda dos produtos. “Esse é sempre um grande desafio, mas mesmo quando nós não tinhamos recursos nós trabalhávamos”, diz o técnico da Iesol, Analry Nunes Filho.
Segundo ele, os recursos da Universidade Sem Fronteiras que mantinham o projeto visam dar aos recém-formados oportunidade de emprego. Os recursos são bastante concorridos e a Iesol espera que outros projetos voltados para o pré-assentamento concorram no futuro.