Eu quero é Luta!



Vocês já repararam que muita gente diz que nós jovens dos assentamentos e acampamentos só queremos saber de música, esporte e festa e não nos interessamos por nada “sério”? E ainda que a música que a gente ouve é ruim, que não é da “nossa cultura camponesa”?

Já pensaram nisso? Mas será que a cultura, a arte e o lazer também não são uma parte muito importante das nossas vidas? E qual é mesmo a nossa cultura camponesa que os mais velhos tanto gostam de falar?

Vocês já repararam que muita gente diz que nós jovens dos assentamentos e acampamentos só queremos saber de música, esporte e festa e não nos interessamos por nada “sério”? E ainda que a música que a gente ouve é ruim, que não é da “nossa cultura camponesa”?

Já pensaram nisso? Mas será que a cultura, a arte e o lazer também não são uma parte muito importante das nossas vidas? E qual é mesmo a nossa cultura camponesa que os mais velhos tanto gostam de falar?

Não é nada simples responder essas questões. Afinal, para falarmos sobre música, cultura, festas, temos que refletir sobre tudo o que fazemos na vida, o nosso modo de viver. Não dá para separar as coisas. Se olhar- mos para a origem, a cultura tem a ver com o cultivo da terra, logo com o trabalho.

Então, não podemos dizer que não se trata de coisa séria. Pelo contrário, antes as músicas, o teatro, as festas, mesmo os esportes, tinham tudo a ver com o trabalho no campo, os plantios, as colheitas etc. Todos e todas eram produtores de cultura.

O que acontece é que as coisas foram se modificando bastante. Quando olhamos, por exemplo, para as músicas que ouvimos hoje, a maioria não tem muito a ver com o nosso modo de viver. O comum é ouvir músicas sobre mulheres bandidas e homens traídos. Sem falar no sucesso do “eu quero tchú, eu quero tchá…”

Vocês acham que essa é a nossa realidade? Em geral, o ritmo é tão contagiante que nem prestamos atenção nas letras… mas a maioria de nós está fora dessa história de homem traído ou mulher que gosta de apanhar, não é?!

Na maioria das vezes, somos apenas consumidores e meros espectadores da cultura, que passa na televisão, nos grandes shows, nos jogos de futebol milionários, ou mesmo da nossa própria comida, roupas…

Não é verdade? Quantos de nós abrem mão de fazer uma programação com o grupo de amigos e jovens do assentamento para ficar em casa pra ver televisão ou trocar mensagens no celular?

A questão é que essas músicas, as novelas e outros programas que passam na televisão, mesmo muita coisa que tem na internet, tentam manipular nossos desejos, ficam a toda hora nos dizendo que para sermos felizes temos que comprar cada vez mais coisas. E que devemos ficar em casa e esperar que a vida melhore, que não precisamos nos organizar coletivamente para lutar pelos nossos direitos, ou mesmo para nos divertir.

Ouvimos ainda que a vida no campo é um fardo, é só trabalho pesado, que as pessoas são atrasadas, não têm acesso à tecnologia, e que o melhor é ir para a cidade.

Vocês lembram de ter visto algum programa na televisão que fale de como os assentamentos podem ser um lugar muito bom para viver, trabalhar, estudar, se divertir, ter acesso à internet, ter um grupo de teatro, uma banda de música?  É difícil isso passar, né? E olha que tem assentamentos com bem mais coisas. Mas, em geral, só mostram o quanto as grandes fazendas do agronegócio produzem, com suas super máquinas e venenos (e sem precisar de gente).

O campo é espaço apenas de produção ou um lugar para viver? Vamos aceitar isso quietos e acreditar que esse é o único jeito de se viver? Vamos ficar só ouvindo as músicas que querem que a gente ouça, porque gera mais lucro, e seguir a onda do momento?

A juventude sempre teve muita garra, muita energia e vontade de fazer e criar coisas novas e transgredir as regras. Por isso, nossa cultura, nossa música, nossa roupa, nossas festas têm que mostrar isso.

Não precisamos ficar à espera. Por que não produzir nossas próprias músicas e fazer nossas festas diferentes? Não precisa ser como as festas “antigas”, só moda de viola, como os mais velhos às vezes querem. Por que não juntar diferentes ritmos e usar a tecnologia? Será que dá para juntar a viola com hip hop e música eletrônica? Vamos experimentar! Muitos jovens nos assentamentos já estão fazendo música, poesia, teatro, pintando, até mesmo fazendo vídeos.

Nossas famílias têm uma história de luta. Então, nossa vida e nossa cultura têm que ser também de luta, de resistência e de festa, alegre e coletiva. Feita por todos e para todos.

Por isso, estas coisas são muito importantes e sérias – na vida e na luta. Da mesma forma que temos que lutar para que a terra e os alimentos não sejam tratados como meras mercadorias, temos que lutar para que a cultura também não seja.

Precisamos discutir, estudar, aprender e experimentar. Fica aqui o desafio: por que não montar grupos de cultura nos assentamentos e nas escolas?