Faleceu Dom Ladislau, Bisbo de São José dos Pinhais (PR) e presidente da CPT
Da Página do MST
Da Página do MST
Faleceu pela manhã desta segunda-feira (13), Dom Ladislau Biernaski, Bispo de São José dos Pinhais, Paraná.
Dom Ladislau foi durante muitos anos bispo auxiliar de Curitiba, e em 2006 foi nomeado o primeiro bispo da recém formada Diocese de São José dos Pianhais, na região metropolitana de Curitiba.
Dom Ladislau sempre foi um animador das Pastorais Sociais. Atuante na Comissão Pastoral da Terra (CPT), foi eleito seu presidente nacional em 2009.
Mais do que cargos em funções, Dom Ladislau era uma pessoa muito sábia, humilde e simples que gostava de conviver com os pobres e em especial com os camponeses.
Sempre apoiou a Reforma Agrária e o MST no Paraná e em todo Brasil.
Nos deixa aos 73 anos de uma vida comprometida com a verdade e a justiça. Um bispo filho de camponeses migrantes poloneses, que se preocupava com a soberania alimentar, com a agroecologia. Era um semeador de ideias e de exemplos de vida, a serviço dos camponeses.
Grande Dom Ladislau, foi um verdadeiro pastor!
Secretaria Nacional do MST
O velório será realizado nesta quarta-feira (15), às 9h, na Catedral de São José dos Pinhais. A cerimônia será presidida pelo arcebispo de Curitiba, dom Moacyr José Vitti.
Abaixo, veja nota pública da CPT:
NOTA DE PESAR PELA MORTE DE DOM LADISLAU BIERNASKI
Aos nossos amigos e parceiros
Compartilhamos com vocês nossos sentimentos pela morte de nosso presidente, Dom Ladislau Biernaski, ocorrida no dia de hoje. A CPT Nacional se reconhece neste texto de Jelson de Oliveira, agente da CPT Paraná, que muito bem conheceu Dom Ladislau e com ele condividiu lutas, sofrimentos e vitórias. Os homens e mulheres do campo brasileiro perdem com essa morte um grande aliado, movido pelo espírito de Justiça que se alimentava da palavra e da prática de Jesus, que veio anunciar Boas Notícias aos pobres.
Goiânia, 13 de fevereiro de 2012.
Coordenação Nacional da CPT
Morre o bispo da Reforma Agrária
Jelson Oliveira*
Dom Ladislau Biernaski era desses homens apaixonados pela terra. Mãos calejadas e unhas turvas, seu grande orgulho era mostrar a horta que mantinha no quintal de sua residência simples na cidade na qual viveu por muitos anos e da qual foi bispo nos últimos cinco, São José dos Pinhais. Essa paixão pela terra, herdada da família de imigrantes poloneses, fez com que ele transformasse a terra também numa causa evangélica e política. Por ela frequentou acampamentos e assentamentos em nome da Igreja. Muitas vezes deixou mitras e cátedras e foi à praça do povo para celebrar esse compromisso profético com a justiça. À frente da Comissão Pastoral da Terra em nível estadual e nacional, e das demais pastorais sociais que acompanhou, Dom Ladislau foi um amigo e companheiro. Soube como ninguém entender e explicar a missão pastoral da Igreja dos pobres e por esta clarividência, participou de inúmeras mobilizações da luta dos pobres paranaenses no campo e na cidade.
Na missa de sua posse, em março de 2007, na nova Diocese, o bispo do povo declarou que “no âmbito da justiça é que se louva a Deus”. Foi essa certeza que o alimentou em tantos anos de vida e de sacerdócio. Foi ela que o fez recusar os sacrifícios inocentes ofertados a Deus com o sangue dos trabalhadores e trabalhadoras. Talvez por isso, sua comovente simplicidade não o tornou perfeito como homem, mas o fez buscar a justiça como norma. Carregou suas cruzes e sangrou suas próprias feridas. Em seus olhos inquietos e miúdos sempre pudemos encontrar aquela inquietude de um ser inacabado. Teve seus erros, seus dramas e suas noites insones, depois das quais, louvava a Deus com um farto café da manhã na mesa central de sua sala, para o qual muitas vezes contava com a companhia de amigos e companheiros de luta. Partilhou o pão, a paixão e os estorvos da luta.
Seu lugar era à mesa dos pobres, como esperança, e às tribunas dos poderes e das mídias, como advertência. Ouviu com paciência. Amou com radicalidade. Falou com admirável coragem das causas mais difíceis, cujas feridas ainda sangram na geografia da nação. Foi padrinho incansável da campanha pelo módulo máximo para a propriedade da terra no Brasil. Chorou a morte de tantos trabalhadores sem terra país afora. Denunciou o trabalho escravo. Rezou por suas viúvas e abençoou seus filhos. Acreditou incansavelmente na agroecologia, na produção sustentável, no respeito ambiental e no comércio justo. Defendeu a agricultura camponesa com o entusiasmo que trouxe do berço. Caminhou em romarias e marchas. Deu entrevistas. Falou do Evangelho com a cativante palavra da esperança e da vida com a evangélica força do testemunho.
Como tantos outros, Dom Ladislau morreu hoje sem que sua utopia se realizasse. Mas dizem que a melhor forma de homenagear uma vida que se foi é dar continuidade aos seus projetos. Essa é a forma como eu e você devemos lembrar este homem cujo testemunho é, de tão raro, inesquecível; e de tão simples, profético. Nossa teimosia será sempre uma forma de homenagem. Sua memória um compromisso com a vida.
*Coordenador do Curso de Filosofia PUC-PR e agente da CPT Paraná