Juventude do campo: trabalho e renda
Da Página do MST
Da Página do MST
Há uma invisibilidade das questões juvenis no campo, por conta de uma única maneira
de se pensar a realidade a partir do olhar dos centros urbanos para o meio rural, sem levar em consideração a diversidade do campo. Essa luta ideológica contribui para que a juventude se disperse e saia para os centros urbanos em busca de melhores condições para a manutenção e a reprodução de sua existência, convencidos pela falsa contradição de que “é bom viver na cidade e ruim viver no campo”.
A juventude trabalhadora enfrenta diversos problemas, ainda mais quando o assunto é a falta de políticas públicas. A criação de condições de trabalho e renda para o jovem do campo é um tema urgente. Assim, já que a juventude forma a maioria da força de trabalho brasileira, cabe nos perguntar: qual será nosso futuro em relação ao trabalho e às suas formas de se organizar?
Num contexto em que há hoje 500 mil jovens na base assentada e acampada, os movimentos sociais se tornam uma alternativa. Em primeiro lugar, para resolver as demandas imediatas. Em segundo lugar, por possibilitar uma melhora também no que se refere à formação – política e profissional – já que a luta não é só pela terra, mas pelo conjunto de políticas públicas que tornam o campo um lugar mais digno para se viver.
Um jovem sem condições de acesso à terra e alternativas de produção fica exposto à imposição de trabalho do agronegócio. Isso quer dizer trabalho intenso e sem garantia
de direitos. Sem contar o desemprego e tantas outras mazelas no campo, como o trabalho escravo e o trabalho infantil. Ainda por cima, a alta rotatividade nos locais de trabalho entre os jovens acaba por dificultar sua organização e, sem muitas garantias e certezas, surgem as condições para que migrem de um lugar para outro.
Nessa perspectiva, temos que refletir sobre esse novo período histórico que estamos passando no desenvolvimento de nossos assentamentos, principalmente com o avanço do modelo de produção do capital sobre a agricultura. Esse modelo é baseado, sobretudo, na individualização dos créditos e na própria forma de produção, atrelado à ausência de políticas públicas que ajudem a estruturar a agricultura camponesa e a cooperação agrícola.
A juventude tem um papel importante para debater um novo projeto para o campo, onde
os jovens sejam a principal força a ser atendida, em vista de um desenvolvimento sociocultural, que leve em consideração cultura, esporte, comunicação e lazer para todos os públicos, e que ainda esteja voltado a criar renda nos assentamentos.
Uma das lutas a ser travada é pela implementação, maior planejamento e investimentos
nas agroindústrias dos assentamentos. Dessa forma, será possível abrir mais postos de trabalho, gerar renda na pequena agricultura. Ou seja, criar e diversificar as oportunidades para juventude que reside nos assentamentos trabalhar em diversas áreas e gerar renda para a família.
Questão de identidade
Muitas pessoas tendem a pensar que uma educação para a área rural seria simplesmente formar técnicos agrícolas para ter agricultores mais eficientes no aspecto
produtivo. A realidade do campo, que demanda a construção de agroindústrias, exige profissionais preparados em outras áreas como saúde, educadores, direito, economia, engenharia e arquitetura, cultura e comunicação. Além disso, requer também uma educação humanística que situe o morador rural dentro do que se convencionou chamar de modernidade.
Um elemento importante é a própria valorização do “ser do campo”, pela auto-estima daqueles que vivem no campo. E também pelo acesso e uso fruto dos saberes desenvolvidos pela humanidade em favor de uma vida digna no campo. E é dessa maneira que precisamos avançar nas políticas públicas, para que a juventude seja protagonista e ajude no processo de renda das famílias. Que contribua na teoria e prática das experiências de educação e escolarização em nossos assentamentos.
Para avançar nesse sentido, a organização espacial dos assentamentos representa um desafio. A dispersão das famílias em lotes individuais – o chamado “quadrado burro” – só traz menores perspectivas de desenvolvimento da produção, contribuindo, inclusive, no isolamento social das pessoas que ali (con)vivem.