Professora da USP analisa panfleto fascista de São Gabriel
Lucília Romão, professora da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP, elaborou uma interessante análise do panfleto fascista distribuído na cidade de São Gabriel, no Rio Grande do Sul, em junho.Com um forte teor preconceituoso, o texto incitava a violência contra os trabalhadores rurais sem terra que partiam em marcha rumo à São Gabriel para protestar contra a decisão da justiça que suspendou a desapropriação de um latifúndio improdutivo de 13,2 mil hectares. As terras iriam abrigar 2 mil pessoas, cerca de 500 famílias.
Em sua interpretação, Lucília aponta como o material tenta construir uma identidade com a população da cidade, ao repetir exaustivamente termos como ”povo de São Gabriel, povo gabrielense“ e termos parecidos, com o objetivo de mobilizar a população da cidade contra os trabalhadores rurais.
Além disso, o panfleto passa a imagem de que São Gabriel não é atingida por problemas sociais. Como se a cidade fosse uma ilha de justiça, que poderia ser atingida ou abalada pela permanência dos sem terra. Mas, dados do IBGE mostram que isso não corresponde a realidade. O município, que possui 62 mil habitantes, tem apenas 4 mil casas com toda a infraestrutura necessária, como rede sanitária, agua e coleta de lixo. Até 1999, não havia nenhum posto de saúde na cidade. Apesar do panfleto ter sido apócrifo, estes dados mostram a visão latifundiária, excludente e elitista de quem escreveu este material.