Movimentos sociais apresentam propostas para educação do campo
O alto índice de analfabetismo, a falta de escolas no meio rural e a inadequação dos currículos e da metodologia de educação à realidade camponesa foram os principais problemas apontados pelos 1.100 participantes da II Conferência Nacional por uma Educação do Campo, promovida por movimentos sociais de todo o país, entre 2 e 6 de agosto, em Luziânia, Goiás.
A atividade reuniu representantes de organizações sociais de trabalhadoras e trabalhadores do campo e de educação, de universidades, sindicatos, secretarias estaduais e municipais de educação, além de estudiosos e membros do governo federal. O evento foi uma parceira com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e teve apoio do MEC (Ministério da Educação) e Pronera (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária).
O documento final da Conferência propõe ações prioritárias para a educação do campo e sintetiza as discussões que repensaram as políticas públicas para o setor destacando o dever do Estado e a indispensável participação das diferentes formas de organização do povo como principais agentes dos processos educativos.
Miguel González Arroyo, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explicou que as experiências que vem sendo realizadas com os movimentos sociais camponeses são uma prova do potencial que a educação do campo pode fazer na transformação social. “Se a educação pública do campo está abandonada, a desenvolvida pelos movimentos sociais hoje é uma das fronteiras mais avançadas do movimento pedagógico brasileiro”, afirmou.
Edgar Kolling, do Setor de Educação do MST falou sobre a experiência do Movimento. “Temos hoje aproximadamente 2 mil escolas públicas em áreas de assentamentos, a estimativa é que 200 mil pessoas estudam graças ao MST”, explicou. Segundo Kolling, a presença da infância e da adolescência no movimento pressionou a adoção de ações educacionais, mas passados 20 anos, a educação no Movimento abrange desde o ensino básico até o superior, atendendo crianças, adultos e até idosos. “Possuímos também cerca de 8 mil educadores da Reforma Agrária, que são moradores de assentamentos e já formamos 700 pessoas em magistério e 150 pedagogos”.
Em resposta à dívida social que o Estado tem com a educação de milhares de camponeses, o ministro da Educação, Tarso Genro garantiu que dará um salto de qualidade na questão. Durante a Conferência, Genro afirmou que a pressão dos movimentos sociais é fundamental para que ocorram mudanças na sociedade brasileira. “Uma sociedade que não tem movimentos sociais ativos é uma sociedade doente, que tem déficit democrático, que não tem cidadania e nem aspiração da cidadania. Não haverá nenhuma mudança e nenhuma transição se não houver um movimento de fora para dentro”, defendeu.
Entre as propostas apresentadas pelos participantes estão a universalização do acesso da população brasileira que trabalha e vive no e do campo à educação básica de qualidade social; a ampliação do acesso e garantia de permanência da população do campo à educação superior; valorização e formação específica de educadoras e educadores do campo.