“Nestlé privatiza o uso da água”, afirma Roberto Malvezzi

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“Nestlé privatiza o uso da água”, afirma Roberto Malvezzi

22/11/2004

As empresas que procuram privatizar o uso da água visando o lucro, receberam duras críticas durante a mesa de debates “Água e energias renováveis” nessa terça-feira, 23 de novembro, na Conferência Nacional Terra e Água, que reúne cerca de 10 mil trabalhadores no Ginásio Nilson, em Brasília.

Roberto Malvezzi, da Comissão Pastoral da Terra citou o caso da Nestlé que conseguiu uma licença do Departamento Nacional de Produção de Mineral (DNPM) para explorar os poços de água mineral de São Lourenço (MG). A empresa explorou tanto que secou o lençol freático da região. “A empresa engarrafa a água, com custo mínimo e a vende obtendo um lucro fantástico, sem precisar produzir nada”, afirma Malvezzi. Outra forma de privatizar o uso da água, de acordo com Malvezzi, é entregar os serviços de saneamento ambiental na mão das empresas privadas através das PPPs ( parceira público privada), “esse é o maior risco de privatização do uso da água que o Brasil corre neste momento”.

Segundo dados da ONU, a média mundial de consumo é de 10% para uso humano, 20% para indústria e 70% para irrigação. No Brasil a água tanto para o agronégocio como para o “hidronegócio”. Um exemplo disso é a produção de soja, cana, café e frutas irrigadas e camarão em cativeiro. “As grandes empresas que tem dinheiro e influência política, se apropriam de um bem que é público para enriquecerem”, alerta Malvezzi.

Marco Antonio Trierveiler, da direção nacional do MAB, afirmou que o atual modelo energético não está a serviço de fazer do Brasil um país soberano, mas a serviço do poder econômico, que atrelado ao poder político define o papel de cada país dentro do capitalismo. “Todos os acordos dos Estados Unidos, como por exemplo o Nafta, prevêem a construção de um grande número de barragens, principalmente nos países pobres”, explica.

O Procurador da República, Alexandre Camanho, que também participou da mesa de debates na Conferência, reafirmou para multidão de trabalhadores que o Ministério Público tem o papel e a obrigação defender a população e o meio ambiente. “Á água é um bem público e precisa ser respeitado”, explica.

Unidade no campo

Já na manhã desta terça o debate circulou em torno da Reforma Agrária e das perspectivas para o campo. Rolf Hackbart, presidente do Incra, palestrante da mesa, pediu a união de todos os movimentos sociais do campo para estabelecer pautas comuns. “O Estatuto da Terra já tem 40 anos, mas a concentração da propriedade continua a mesma. Constam hoje no cadastro do Incra, 58 propriedades improdutivas, o que corresponde a 134 milhões de hectares”, finaliza.

Horácio Martins de Carvalho também defendeu a união dos trabalhadores do campo. Para ele, “é necessária a unidade no campo para a formação de alianças por uma Reforma Agrária Massiva. Essa á a única forma de negar o atual modelo econômico do agronegócio”.