Renda não acompanha o crescimento

Renda não acompanha o crescimento

13/12/2004

Por Lauro Veiga Filho
Fonte Jornal Brasil de Fato

A economia brasileira atingiu um crescimento acumulado de 5,3% nos nove primeiros meses deste ano, na comparação com igual período de 2003, quando havia registrado uma tímida variação de 0,4% frente a 2002.

A base de comparação, ainda reduzida pelos fracos resultados do ano passado, e a força das exportações e da agropecuária favoreceram o desempenho da atividade econômica até aqui, mas a renda do brasileiro não tem crescido na mesma proporção, indicando que os resultados da recuperação estariam sendo apropriados por outros setores.

Em outubro, o rendimento médio pago às pessoas com algum tipo de ocupação registrava uma elevação de apenas 2,65% em relação ao mesmo mês do ano passado, insuficiente para repor as perdas observadas desde 2002.

O valor do rendimento médio, já corrigido com base na inflação, chegou a pouco mais de R$ 900 em outubro, recuando 1,2% em relação a setembro. Na comparação com outubro de 2002, auge da crise que afetou o país, fazendo o dólar disparar, persiste um tombo de 12,9%.

Perdas

O crescimento do total de pessoas ocupadas, no período, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), trabalhados por este jornal, também não foi sufi ciente para repor a perda.
Em outubro de 2002, o Instituto registrava quase 18,1 milhões de pessoas com mais de 10 anos ocupadas, como empregadas e/ou empregadoras, ou trabalhando por conta própria. A massa de rendimentos (ou seja, o total de rendimentos pagos no país) poderia ser estimada em R$ 18,7 bilhões, em valores de outubro de 2004.

Dois anos depois, o total de ocupados cresceu para 19,4 milhões (mais 7,3%), mas a massa de rendimentos murchou, somando menos de R$ 17,5 bilhões (que corresponde à multiplicação do total de ocupados pela renda média anotada pelo IBGE).

Os números ainda registram uma redução de 6,5%, representando uma perda de R$ 1,2 bilhão – dinheiro que deixou de irrigar o consumo, afetando as vendas do comércio e, indiretamente, a produção industrial, que poderiam estar crescendo mais rapidamente, acelerando a criação de empregos, se os salários tivessem acompanhado o crescimento da economia.

Compensação

Numa tentativa de compensar a perda de renda observada nos últimos anos, como mostra reportagem veiculada no jornal O Estado de S. Paulo, com dados da Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo, as pessoas ocupadas têm sido obrigadas a trabalhar mais.
Assim, alongam a jornada de trabalho e sacrificam sua qualidade de vida. Da mesma forma, aposentados e pensionistas foram obrigados a retornar ao mercado de trabalho para complementar a renda familiar.

De acordo com o levantamento, feito pelo secretário Márcio Pochmann, tomando por base informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, o total de trabalhadores com jornada de trabalho superior a 44 horas semanais cresceu de 27,1 milhões, em 1996, para 29,3 milhões em 2003, um aumento de 8%.

Sem emprego

Mais 2,1 milhões de aposentados retornaram ao mercado de trabalho. O número de pessoas nessa condição passou de 4,9 milhões para 6 milhões, no mesmo período – um salto de 22% em sete anos. Isso se explica pela retração de 18,8% na renda média das pessoas ocupadas naqueles sete anos (1996-2003), diz Pochmann.

Em sua análise, o mercado brasileiro de trabalho passou a registrar um “padrão asiático”, ou seja, empregos de baixos salários e jornadas cada vez mais longas, temperado por grande instabilidade. Entre 1996 e 2003, de acordo com o levantamento, foram criadas 11,2 milhões de vagas no país, um número insuficiente para abrigar todos os que procuravam emprego. Resultado: o total de desempregados aumentou 68,1%, saindo de 3,4 milhões, para 8,5 milhões de pessoas.

Entre os novos postos de trabalho, houve uma evidente concentração em colocações de baixa exigência e salários curtos. Foram criados 17,5 milhões de postos de trabalho para as pessoas com rendimentos de até três salários-mínimos mensais. Nas faixas de remuneração mais elevada, foram fechados 6,3 milhões de empregos.

A mais recente pesquisa mensal de emprego e desemprego, também do IBGE, mostra alguma melhoria naquele quadro, embora os dados limitem-se às regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Porto Alegre e Belo Horizonte.

Em outubro deste ano, foram criados mais 83 mil empregos, na comparação com setembro. Daquele total, 66% foram para empregados com carteira de trabalho assinada.

Sem carteira

O crescimento, mês a mês, ainda é tímido e insuficiente para reverter a deterioração registrada nos períodos anteriores. Tomando outubro do ano passado como referência, o total de empregados com carteira recuou de 44,3% sobre o total de pessoas ocupadas para 43,6%. Os trabalhadores sem registro formal tiveram sua participação ampliada ligeiramente, de 21,75% para 22,75%.

Nas regiões pesquisadas pelo IBGE, havia um contingente de 19,4 milhões de pessoas ocupadas em outubro deste ano, representando 4,1% mais do que no mesmo mês de 2003 – o que correspondeu à abertura de 774 mil novas colocações. Do total de ocupações abertas, quase 47% foram destinadas a empregados sem carteira, cabendo 30,5% àque