Um outro mundo é possível

Caros amigos e amigas do MST,

O V Fórum Social Mundial, realizado entre os dias 26 e 31 de janeiro, em Porto Alegre (RS) reuniu, mais uma vez, participantes de todo o mundo. Foram 155 mil pessoas de 135 países. A Vía Campesina compareceu com cerca de mil participantes de 40 países, em quatro continentes. Na América Latina, Bolívia, Honduras, Haiti, México, Nicarágua, Argentina, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, Guatemala, Paraguai, República Dominicana, Panamá e Brasil foram representados.

O Fórum começou e terminou com duas grandes manifestações. A marcha de abertura teve como tema central a guerra no Iraque. Faixas, bandeiras, cartazes expressavam o descontentamento que as políticas empreendidas pelo governo de George W. Bush. O apoio ao povo iraquiano e também aos palestinos foi visível durante toda a semana. No dia 27, bombas para a extração de água foram doadas ao povo palestino pela Via Campesina.

No encerramento, a crítica foi voltada para a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). No ato, seguindo a decisão de descentralizar o Fórum, a organização confirmou que em 2006 o Fórum do Continente Americano será na Venezuela. Em 2007, o evento volta a ser global e se realiza na África.

No marco deste encontro, gostaríamos de compartilhar com vocês fragmentos da declaração final dos movimentos sociais reunidos em Porto Alegre:

Neste mesmo espaço, há quatro anos, o grito coletivo e global que um outro mundo é possível rompeu a mentira de que a dominação neoliberal era inevitável, assim como da “normalidade” da guerra, da desigualdade social, do racismo, das castas, do patriarcado, do imperialismo e da destruição do meio ambiente.

A cada ano, a participação plural e massiva no FSM nos dá a possibilidade e a responsabilidade de fazer mais e melhor nossas campanhas e mobilizações para ampliar e fortalecer nossas lutas. A capacidade dos movimentos sociais de construir ações globais comuns já mobilizou dezenas de homens e mulheres pela paz e contra a invasão do Iraque. As lutas populares em defesa da natureza, dos direitos dos povos e dos bens comuns, contra a sua privatização, como as da Bolívia, Uruguai e outros povos, demonstraram a possibilidade de pôr em crise a dominação neoliberal. Abriram-se novos espaços de luta política e social.

Conscientes de que nosso caminho ainda é longo, chamamos todos os movimentos do mundo e cada um de vocês a lutar pela paz, pelos direitos humanos, sociais e democráticos, pelo direito dos povos de decidir seu destino e pelo cancelamento imediato da dívida externa dos países do Sul.

Exigimos o fim da ocupação do Iraque. Exigimos que os Estados Unidos terminem de ameaçar o Irã, a Venezuela e outros países. Chamamos desde já os movimentos a se mobilizarem o dia 19 de março num grande dia de ação global para exigir a retirada das tropas de ocupação do Iraque. Não mais guerras!

Lutamos pelo direito universal a uma alimentação sadia e suficiente. Lutamos pelo direito dos povos, das nações e dos camponeses a produzirem seus alimentos. Rejeitamos os alimentos transgênicos porque além de pôr em risco a nossa saúde e o nosso ambiente, são o instrumento para o controle dos mercados por cinco empresas transnacionais. Rejeitamos também as patentes sobre qualquer forma de vida e em especial sobre as sementes, já que com isso pretendem se apropriar dos nossos recursos e o conhecimento associado a eles.

Exigimos a Reforma Agrária como uma estratégia que permita garantir o acesso dos camponeses à terra, e seja a garantia de uma alimentação sadia e suficiente. Apoiamos a produção sustentável baseada na preservação dos recursos naturais e o fomento à produção orgânica e agroecológica.

Apoiamos a luta do povo palestino pelos seus direitos fundamentais e nacionais, inclusive o direito ao retorno, baseados no direito internacional e às resoluções da ONU. E com seu exemplo de resistência, seguimos nossa luta. Globalizemos a luta, globalizemos a esperança!

Porto Alegre, 31 de janeiro de 2005.

Secretaria Nacional do MST.

Breves

O MST É PELA NÃO VIOLÊNCIA!

Em nota oficial, o MST lamentou a morte de um policial militar no assentamento Bananeira, em Quipapá, interior de Pernambuco. O Movimento, que sempre rechaçou a violência, se comprometeu em ajudar na busca dos responsáveis pelo crime. Os acusados, que estavam envolvidos em formação de quadrilha, foram expulsos do MST no ano passado justamente por desvios éticos, morais e econômicos. Suas práticas e condutas não condiziam com os valores pregados pelo Movimento e não foram toleradas entre as famílias Sem Terra. Na ocasião, o Incra foi comunicado da expulsão. Infelizmente, a grande mídia nacional não divulgou claramente essas informações, procurando, mais uma vez, criar confusão na sociedade brasileira e criminalizar o MST.

Brasil de Fato comemora dois anos com festa e esperança

Uma grande festa, repleta de alegria, emoção e a certeza de que é preciso trilhar um caminho por um Brasil mais democrático e justo. Estes foram os sentimentos que emergiram do ginásio Araújo Viana, na noite de 29 de janeiro, na celebração do aniversário de dois anos do Jornal Brasil de Fato, que aconteceu dentro das atividades do V Fórum Social Mundial (Porto Alegre, RS). Cerca de 6 mil pessoas estiveram no local para apoiar e celebrar a existência de um veículo que, como o próprio nome diz, pretende mostrar e discutir os reais problemas do povo brasileiro, que não encontram espaço na grande mídia.

Famílias sofrem despejo no Pontal após ocuparem terras devolutas

Três fazendas foram ocupadas no Pontal do Paranapanema no final do mês passado. Destas, duas sofreram reintegração de posse em 02 de fevereiro. As ocupações tinham como alvo fazendas de caráter devoluto, com inspeção afirmativa do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) e processo de desapropriação parado na Justiça – no total, são mais de 200 mil hectares de terras com processos parados.

Cartas

Saudações! Escrevo para parabenizar pela belíssima iniciativa na fundação da ENFF e oferecer meus serviços: sou professora de História do Brasil e comprometida com os ideais do nosso querido professor Florestan Fernandes (moro em Belo Horizonte). Um forte abraço, Wanda Regina Rodrigues.

Camaradas do MST, Parabéns por mais esta conquista, desejamos que a Escola Nacional Florestan Fernandes seja o espaço que acelere a reforma agrária e a construção de um país digno, justo e fraterno. Ficamos orgulhosos por esta conquista pois as vitória dos Sem Terra significam a nossa vitória também, pois sabemos o que é a dor de sermos excluídos , de ainda não termos nosso território… A vitória do MST nos fortalece e nos deixa felizes de podermos compartilhar este momento tão importante. Somos Todos Sem Terra, somos todos Palestinos! Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino.

Prezados amigos do MST: Senti um grande entusiasmo ao ler sobre a inauguração da Escola. É maravilhoso! Desejo que floresça e cresça, como também o ideal de um Brasil mais justo. Tudo de bom e muita energia! Vivana Bosi.