Marcha Nacional pela Reforma Agrária
Caros amigos e amigas do MST,
Em 17 de maio, após caminhar mais de 230 quilômetros, os 12 mil trabalhadores e trabalhadoras que participaram da Marcha Nacional pela Reforma Agrária encerraram sua mobilização em Brasília (DF).
Pela manhã, 200 marchantes foram ao Congresso Nacional para participar de uma cerimônia em homenagem à Dom Luciano Mendes de Almeida. Depois, compareceram a audiências com os presidentes da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, e do Senado, Renan Calheiros, que cumprimentou a Marcha “por sua organização e serenidade, demonstrando de uma vez por todas que é possível reivindicar com civilidade”. Nos dois encontros, o Movimento apresentou apoio à criação da Comissão Parlamentar de Inquérito para a auditoria das dívidas interna e externa e ao anteprojeto elaborado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que garante ao povo o direito de convocar plebiscitos, além de defender o referendo proibindo a venda de armas.
À tarde, acampados nas redondezas do estádio Mané Garrincha, os marchantes saíram em direção à Esplanada dos Ministérios. O primeiro local visitado foi a Embaixada dos Estados Unidos. Ali despejaram simbolicamente o lixo de nossa sociedade com produtos do McDonald’s, da Coca-Cola e armas de brinquedo. Deixaram cravadas duas faixas: “Bush: o chefe mundial dos terroristas” e “Estamos devolvendo vosso lixo”.
Em seguida, os Sem Terra se dirigiram ao Ministério da Fazenda para realizar um protesto contra a política econômica. Ao mesmo tempo no Banco Central, a taxa de juros paga pelo governo aos bancos era aumentada de 19,5% para 19,75% ao ano, o que significa um custo de mais de 900 milhões de reais ao povo brasileiro.
Neste ato, Plínio Arruda Sampaio, presidente da Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária) deu uma aula aos marchantes sobre a natureza da atual política econômica. “Nós não precisamos de interferência estrangeira no Brasil para ajudar a economia. Precisamos fazer o modelo da barriga cheia, da mudança digna, da escola eficiente, do hospital que recebe as pessoas. E nós temos condições de mudar com o que já existe no Brasil”, afirmou Sampaio.
Quando todos já se dirigiam ao Congresso para o início do ato político de encerramento, onde os partidos e as entidades falariam, veio a provocação organizada e planejada pela polícia do governo do Distrito Federal.
Primeiro, um veículo da polícia civil, sem motivo aparente, tentou entrar no meio da multidão, o que levou alguns a cercar a viatura. Imediatamente, a cavalaria da polícia militar se jogou contra os manifestantes, enquanto o helicóptero dava vôos rasantes, arrancando chapéus e bandeiras. Segundo reportagem no Jornal do Brasil, a PM infiltrou no meio da multidão 18 soldados, como se fossem manifestantes.
O resultado foi 50 feridos e as manchetes nos jornais no dia seguinte. Era tudo o que a direita e o agronegócio queriam.
O estranho é isso acontecer agora, em pleno regime democrático. Isso prova que as forças reacionárias atuam deliberadamente no estado brasileiro, a revelia de qualquer poder.
Ao contrário dos policiais rodoviários federais, que durante os 15 dias de caminhada mantiveram boa relação com os marchantes, garantido sua segurança, a polícia militar do DF parecia orientada a dificultar a manifestação legítima. Desde a saída em Goiânia até a chegada em Brasília nenhuma ocorrência foi registrada. Nesses 21 anos, o MST nunca adotou princípios violentos para resolver o problema da Reforma Agrária no Brasil.
Apesar da tentativa de descaracterizar a Marcha, o ato de encerramento foi realizado como planejado, com a participação de muitos apoiadores do MST, artistas, cantores e parlamentares que lembraram a urgência da Reforma Agrária.
À noite, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu 50 lideranças do MST e convidados do Movimento. Lula voltou a prometer e garantir os recursos necessários para cumprir a meta de assentar 400 mil famílias até 2006. “Se não cumprirmos as metas da Reforma Agrária, teremos um problema de consciência com nós mesmos”, afirmou. No dia seguinte, uma reunião com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, acertou a contratação de 137 servidores para o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e a abertura de concurso para 1.300 vagas, além de mais oito pontos relacionados com medidas concretas para acelerar a Reforma Agrária. Entre eles, a mudança dos índices de produtividade, que definem se uma propriedade é produtiva, um novo crédito especial para as famílias assentadas, a garantia de reestruturação do Incra, cestas básicas e a prioridade para assentar as 120 mil famílias acampadas até o final deste ano.
Sobre os 16 pontos que o MST discutiu com a população ao longo da Marcha, o governo manteve silêncio.
O MST faz um balanço positivo dos resultados da Marcha. Conseguimos colocar a Reforma Agrária de novo na pauta política da sociedade e do governo. Conseguimos, ao longo da Marcha, pautar o tema da necessidade de mudar a política econômica do governo. E demos um exemplo de organização e espírito de sacrifício para mudar o país, esperando ver um reascenso do movimento de massas. Agora é seguir se organizando nas bases, sabendo que somente a luta social conseguirá as mudanças necessárias.
Nos diversos atos públicos e na imprensa, o MST lembrou a todo tempo que a Marcha dos Sem Terra só foi possível graças à solidariedade. Contamos com o apoio das prefeituras de Anápolis e Goiânia, e do governo do estado de Goiás (PSDB), que cedeu banheiros químicos, ambulâncias e água potável, e também de milhares de pessoas anônimas, entidades, religiosos, ONGs, partidos políticos e parlamentares, em um grande mutirão nacional que viabilizou a Marcha. A todos e todas, agradecemos orgulhosos.
Forte abraço,
Secretaria Nacional do MST.
Breves
Via Campesina realiza atos em SC, BA e PI
A jornada de lutas, organizada pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) teve início em 16 de maio e realizou mobilizações em Chapecó, Concórdia, Joaçaba e Campos Novos (SC), Salvador (BA) e Curral Novo (PI).
Marcha de um milhão de cubanos protesta contra terrorismo
As ruas da capital de Cuba, Havana, foram tomadas por uma multidão que marcharam em 17 de maio contra o terrorismo. A “Marcha do Povo Combatente contra o Terrorismo”, liderada pelo presidente Fidel Castro, denunciou que os atentados contra o país já mataram cerca de 3,5 mil pessoas em mais de 40 anos.
Cartas
Olá, companheirada! Estou mais triste do que feliz por não estar nesta Marcha maravilhosa, a maior que nós americanos verdadeiros já vimos. A todos e todas firmeza na luta e venceremos com nossa ousadia e coragem! Pátria Livre, Venceremos! Valdivan.
Fiquei muito emocionada de ter tido a oportunidade de participar na quinta-feira passada (05/05) da Marcha e do Ato Público realizado aqui em Anápolis (GO). Agradeço por ter sido bem recebida. Jamais esquecerei dos amigos que fiz. Estaremos juntos nessa caminhada na busca por justiça social. Companheiros, força e garra nessa jornada! Beatriz.
Caros companheiros é com imensa alegria que deixo aqui através destas palavras, a minha imensa admiração por este Movimento que a cada dia vem buscando e ganhando o seu espaço. Acredito que com esta Marcha caminharemos rumo a Reforma Agrária tão almejada por nós todos trabalhadores. Que esse ardor militante desperte em cada um de nós o desejo de lutar em favor do povo e para o povo. Força e coragem. Aqui de Ponta Grossa estaremos torcendo por vocês. Parabéns Companheiros. Leticia Caroline Marenda Borgo.