Uma vida pela vida

Caros amigos e amigas do MST,

Estamos acompanhando com atenção a greve de fome contra a transposição do Rio São Francisco. Nesta edição, queremos prestar nossa solidariedade ao Bispo Luiz Flavio Cappio, pela decisão corajosa de entregar a própria vida em uma tentativa derradeira de salvar a vida do rio. Ele segue firme para levar até as últimas conseqüências esta decisão amadurecida e refletida. Será que o presidente Lula irá deixar em seu governo essa marca? Esperamos, sinceramente, que a sensibilidade toque a sua consciência e ele volte atrás na decisão.

Em greve de fome desde 26 de setembro na pequena capela de São Sebastião, em Cabrobó, Pernambuco, as águas do rio São Francisco são o único alimento do Bispo.

Amanhã o Bispo Luiz Flavio completa 59 anos, mesma data em que se celebra o dia de São Francisco. “Há 12 anos lutamos em defesa do rio São Francisco e do seu povo. Quando percebemos que todos os argumentos de razão não foram suficientes para demover o governo de realizar o projeto de transposição, achamos por bem assumir uma postura mais radical. Quem sabe o que não conseguimos pela razão, atingiremos pelo coração”, afirmou o religioso em carta ao povo do nordeste.

Com seu gesto de sacrifício, o Bispo Luiz espera que o governo desista de realizar a transposição do rio, sob o argumento de o projeto carece de transparência, de verdade. “Se quisessem resolver o problema de água para os pobres, já teriam resolvido por onde o rio passa. E, a 500 metros das suas margens, o povo não tem água. Esse projeto inaugura no Brasil o
hidronegócio. É para beneficiar os grandes empresários, a criação de camarão, as grandes empresas de irrigação”, disse.

Para o Bispo, o governo deveria é incentivar e investir em todas as ações que ajudam de fato a levar água para os pobres, que são os pequenos projetos de cisternas, açudes, aproveitar a água da chuva, do subsolo. “Existem ações muito mais econômicas que resolvem o problema”, colocou.

O Bispo Luís Flavio recebeu a visita do emissário do presidente, Selvino Rech. A carta de Lula insistiu nas vantagens da transposição, mas abriu possibilidades para diálogo. “Depois de não termos mais, sobre nossas cabeças, o fantasma do Projeto de Transposição, estamos inteiramente abertos para um amplo diálogo e debate nacional, verdadeiro e transparente,
discutindo alternativas de convivência com o semi-árido e a oportunidade ou não de realizar a transposição”, respondeu o Bispo.

“E se o presidente não voltar atrás no projeto?”, perguntou um jornalista. “Se o presidente não mudar seu pensamento, então a gente entrega a vida”, concluiu o bispo.

Para ao MST, a população brasileira deveria ser ouvida por um plebiscito popular sobre o tema, a exemplo do referendo de venda de armas e munição e tantos outros assuntos que envolvem o destino do Brasil. Precisamos adotar a democracia direta em nosso país.

Para assinar o manifesto a favor do Bispo Luiz Flavio e contra a transposição do rio São Francisco, acesse: http://www.umavidapelavida.com.br

Atenciosamente,

Secretaria Nacional do MST

Breves

Semana da Solidariedade e do Trabalho Voluntário

O MST promove de 3 a 9 de outubro a Semana da Solidariedade e do Trabalho Voluntário em todos os munícipios onde existem acampamentos e assentamentos do Movimento. Haverá doação de produtos da Reforma Agrária para creches, hospitais, asilos, escolas e postos de saúde. Os trabalhadores e as trabalhadoras rurais também farão a limpeza das praças públicas, além de plantar de árvores em homenagem ao lutador Ernesto Che Guevara, assassinado em 9 de outubro de 1967.

Agronegócio não produz e não movimenta indústria

O faturamento da indústria de máquinas agrícolas despencou este ano. Entre janeiro e agosto de 2005 a queda foi de 34,7% em relação ao mesmo período do ano passado. As importações e exportações do setor também diminuiram drasticamente, demonstrando a incapacidade de investimento do agronegócio.

Jornada de Lutas mobilizou Sem Terra de todo o pais

O MST realizou entre 26 e 30 de setembro uma série de atividades em mais de 20 estados e encontros com representantes do governo. O objetivo das mobilizações foi cobrar do governo federal o cumprimento dos sete pontos acordados depois da Marcha Nacional pela Reforma Agrária, realizada em maio deste ano. Trinta prédios do Instituto Nacional de Colonização de Reforma Agrária (Incra) foram ocupados, além de 21 latifúndios improdutivos, dez agências bancárias em São Paulo e uma em Minas Gerais, seis pedágios no Paraná e rodovias em três estados.

Cartas

Saudações e parabéns pela atitude. Saibam que parcela significativa da sociedade civil está apoiando as atitudes do Movimento. Que as mobilizações continuem e se intensifiquem com ou sem Lula, pois a crise social é grande e quem tem fome tem pressa! Leonardo Ângelo da Silva