Promotor denuncia três mandantes do assassinato do padre Josimo Tavares
Em 25 de abril, quase vinte anos após o assassinato do padre Josimo Tavares, o Juiz Costa Junior, da 1ª Vara Criminal de Imperatriz (MA), recebeu denúncia oferecida pelo o promotor Arnoldo Jorge de Castro Ferreira contra o juiz aposentado João Batista de Castro Neto e os fazendeiros José Elvécio Vilarino e Pedro Vilarino Ferreira. Eles são apontados como mandantes do crime.
De acordo com a denúncia, João Batista de Castro Neto, José Elvécio Vilarino e Pedro Vilarino Ferreira, junto com Osmar Teodoro da Silva e Geraldo Paulo Vieira, se reuniram várias vezes para planejar a morte do padre. Eles teriam decidido qual arma usar e quem contratar para a empreitada, além da forma de pagamento.
Padre Josimo nasceu em Marabá (PA) em 1953. Foi ordenado padre em 1979 em Xambioá (TO) e assumiu a Pastoral da Juventude em Wanderlândia (TO). Coordenou também a Pastoral Geral da Diocese, atuando na região do Bico do Papagaio, que compreende o norte do Tocantins, sul do Pará e oeste do Maranhão. A área é conhecida por intensos conflitos pela posse da terra. Na década de 1980 foi coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) na região.
Conhecido por sua defesa intransigente aos trabalhadores e trabalhadoras rurais oprimidos, Josimo Tavares causou medo e ódio aos fazendeiros da região, que também demonstraram seu preconceito diante de um padre negro. Os fatos estão relatados na biografia “Todos Sabiam”, da escritora inglesa Binka Le Breton.
Em abril de 1986, o padre Josimo sofreu um atentado. No dia 10 de maio, um mês depois, foi morto com dois tiros pelas costas, enquanto subia a escadaria do prédio onde funcionava o escritório da CPT.
Sabendo do risco que corria, Josimo deixou um testamento na Assembléia Diocesana em Tocantinopólis (TO) duas semanas antes de sua morte, onde dizia “nem o medo me detém… morro por uma causa justa”. No texto, ele dizia que lutava em defesa do trabalhador e em prol do evangelho.
Poucos anos depois, as investigações policiais identificaram o pistoleiro Geraldo Paulo Viera como o assassino. Ele foi condenado a 18 anos e 6 meses de prisão. Fugiu três vezes da cadeia e foi morto em um assalto a banco.
Outros responsáveis pelo crime também foram condenados: Adailson Vieira teve pena de 18 anos, Osmar Teodoro da Silva, na época presidente da Câmara de Vereadores de Augustinópolis (TO) foi condenado a 19 anos e Guiomar Teodoro da Silva e Vilson Nunes Cardoso, a 14 anos. Um outro acusado, João Teodoro da Silva faleceu antes de ser julgado.
Outros dois acusados, Nazaré Teodoro da Silva e Osvaldino Teodoro da Silva, foram absolvidos pelo Tribunal do Júri. A sentença foi anulada pelo Tribunal de Justiça do Maranhão, mas os réus recorreram para o Supremo Tribunal Federal.
O processo vem sendo acompanhado pela assessoria jurídica do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia (MA), da CPT/TO e da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado do Tocantins.
A CPT, em parceria com a Paróquia de Buriti do Tocantins e as Comissões de Preparação de Buriti e de Wanderlândia, realiza de 7 a 14 de maio a Semana da Terra de Padre Josimo.
Dentro da programação, no dia 10 de maio será realizada às 17h00 uma grande caminhada, seguida de uma missa na igreja onde está o túmulo do padre Josimo, em Buriti do Tocantins.
Leia abaixo o testamento escrito por padre Josimo em 1986:
“Tenho que assumir.
Estou empenhado na luta pela causa dos lavradores indefesos,
povo oprimido nas garras do latifúndio.
Se eu me calar, quem os defenderá?
Quem lutará em seu favor?
Eu, pelo menos, nada tenho a perder.
Não tenho mulher, filhos, riqueza…
Só tenho pena de uma coisa: de minha mãe, que só tem a mim
e ninguém mais por ela.
Pobre.
Viúva.
Mas vocês ficam aí e cuidam dela.
Nem o medo me detém.
É hora de assumir.
Morro por uma causa justa.
Agora, quero que vocês entendam o seguinte:
tudo isso que está acontecendo é uma conseqüência lógica do meu trabalho na luta e defesa dos pobres, em prol do Evangelho, que me levou a assumir essa luta até as últimas conseqüências.
A minha vida nada vale em vista da morte de tantos lavradores assassinados, violentados, despejados de suas terras, deixando mulheres e filhos abandonados, sem carinho, sem pão e sem lar”.