Coopan é exemplo de que a Reforma Agrária dá certo
“Estamos construindo uma nova geração, com mais oportunidades do que nós tivemos”, reflete orgulhoso Emerson Giacomelli, integrante da coordenação do Assentamento Capela, em Nova Santa Rita, município da região metropolitana de Porto Alegre (RS). Cerca de mil trabalhadores Sem Terra, moradores locais, sindicalistas, autoridades e simpatizantes participaram, no último domingo (07/05), da comemoração dos 12 anos do assentamento e da sua cooperativa, a Coopan (Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita Ltda).
Resultado de uma luta que durou cinco anos de protestos, ocupações e de lonas em beira de estrada, o assentamento hoje é um dos mais bem estruturados no Rio Grande do Sul. Cerca de 100 famílias vivem da sua produção, baseada no arroz convencional e integral, suíno, aves e leite – tudo dentro do sistema agroecológico, sem utilizar agrotóxicos ou adubo químico. Realidade bem diferente da área improdutiva e abandonada, que antes de ser destinada à Reforma Agrária somente servia para especulação imobiliária. “Aqui era uma antiga usina de álcool financiada pelo governo federal através do Programa Pró-Álcool, de 1977. O proprietário desviou todos os recursos sem construir a usina até o final. O empreendimento funcionou somente seis meses e depois faliu”, conta Emerson.
Os benefícios não são sentidos somente pelos assentados, mas também pela população local. Zara Lubing Schroeter, vice-prefeita da cidade, ressalta que os agricultores movimentam o comércio da região, gerando renda e ampliando a circulação de produtos e de dinheiro. O governo também ganha, já que aumentou a sua arrecadação de impostos. “O assentamento do MST só nos trouxe benefícios. São pessoas que trabalham e que contribuem com a nossa economia”, afirma.
A preocupação dos Sem Terra em ter escola e espaço de lazer na área também é destacada por Zara. “Aqui estão pessoas que nasceram acreditando em um país igualitário e hoje passam para a realidade este sonho. Temos muito o que comemorar”.
Coopan
Juntamente com a criação do assentamento, no mês de maio de 1994, nasceu a Coopan (Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita Ltda). A iniciativa de montar um sistema integrado de comercialização partiu dos próprios agricultores, os quais viram que a industrialização agregaria mais valor aos seus produtos. “O arroz e o leite estão com um preço muito aquém do custo de produção. Para enfrentarmos a crise desses setores, era importante que industrializássemos a nossa produção”, argumenta Emerson Giacomelli, coordenador do assentamento.
Atualmente, a Coopan conta com 30 cooperativados. A carne de porco, o arroz e o leite produzidos são vendidos para 30 pequenos mercados na região metropolitana. Por enquanto, eles fabricam industrialmente somente a carne suína e derivados, mas devem iniciar o beneficiamento do arroz e o embalo do leite ainda em 2006. As famílias produzem em torno de 10 a 12 mil sacos de arroz por ano. O plantel de suínos é formado por 980 animais.
“A cooperativa proporciona maiores possibilidades de avanço e de desenvolvimento econômico e social do assentamento”, afirma o agricultor assentado Etelvino Romanzin, integrante da cooperativa desde a sua fundação. Para ele, a experiência da Coopan não se restringe somente ao plano econômico. “É uma experiência nova de convivência no coletivo. Trabalhando juntos, conseguimos melhores preços aos nossos produtos e nos desenvolvemos como cidadãos”, salienta.
Entre as dificuldades a serem superadas estão a ampliação da rede elétrica, a fim de instalar mais equipamentos, e os preços baixo pagos pela produção familiar. Questões que não desanimam Emerson. “Nossa conquista é mais humana do que material. O assentamento e a Coopan proporcionaram dignidade aos Sem Terra; fazem com que as pessoas possam andar de cabeça erguida, adquirirem seus direitos, tenham trabalho e lazer”, destaca.