Fome atingiu pelo menos 14 milhões de brasileiros e brasileiras, diz IBGE
“Querer justificar a fome do mundo como um fenômeno natural e inevitável não passa de uma técnica de mistificação para ocultar as suas verdadeiras causas que foram, no passado, o tipo de exploração colonial imposto à maioria dos povos do mundo, e no presente, o neocolonialismo econômico a que estão submetidos os países de economia primária, dependentes, subdesenvolvidos, que são também países de fome”. A frase, escrita pelo geógrafo e intelectual Josué de Castro em 1968, continua atual.
A exclusão social no Brasil persiste. Em 2004, 14 milhões de pessoas foram atingidas pela fome. Outras 25 milhões tiveram acesso limitado aos alimentos e 18% da população vivem em condições de insegurança alimentar leve, conforme demonstram os números de uma pesquisa divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No total, mais de 72 milhões de brasileiros (40% da população do país) têm algum tipo de restrição – quantidade, qualidade e regularidade suficiente – na alimentação.
A estatística fica mais grave quando comparada entre brancos e negros. Há dois anos, 11,5% da população negra ou parda estavam em situação de insegurança alimentar grave. Entre os brancos, o percentual cai para 4,1%.
Se divididos em regiões, os dados ficam piores no nordeste: 53,6% dos domicílios enfrentavam alguma situação de insegurança alimentar, sendo 12,4% casos graves. O sul tem o menor índice: 23,4%.
Ainda segundo o estudo, no nordeste e no norte a fome é maior em áreas rurais, enquanto no sul e no centro-oeste, ela está concentrada nas áreas urbanas.
A insegurança alimentar é considerada de três tipos: a leve, que significa não fazer três refeições diárias regularmente, a moderada, que é o acesso limitado aos alimentos, e a grave, para casos em que as pessoas passaram fome de fato. O estudo utiliza dados da Pesquisa Nacional Domiciliar (PNAD).