Trabalhadores entram em greve para denunciar exploração da Cargill
Fonte Agência CUT
Os dois mil trabalhadores da unidade da Seara-Cargill em Dourados, no interior do Mato Grosso do Sul, estão paralisados desde ontem contra o arrocho salarial e as péssimas condições de trabalho impostas pela multinacional. Com três turnos, o frigorífico abate 1.700 suínos diariamente, quase que exclusivamente para exportação. A empresa também possui no local uma fábrica de industrializados, como salsicha e mortadela.
Nas palavras do presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (STIA) de Dourados, Francisco da Conceição (Chicão), o que a multinacional vem praticando é uma “porca exploração”, com os trabalhadores acumulando perdas salariais ao longo dos anos, que se somam à degradação das condições de saúde e segurança, devido ao intenso ritmo de trabalho ditado pelas exportações.
“Reivindicamos a reposição integral das perdas que totalizam 13,6%, cesta básica mensal de R$ 70,00, Participação nos Lucros e Resultados de R$ 580,00 e diminuição do ritmo, que tem multiplicado o número de trabalhadores lesionados pelo esforço repetitivo”, afirmou Chicão, sublinhando o êxito da paralisação. Hoje, denunciou, “o salário médio dos funcionários na unidade é de R$ 415,00, o que descontado o INSS e os vales transporte e alimentação chega a apenas R$ 320,00, inferior ao salário mínimo, o que é uma baixaria”.
Para tentar submeter seus funcionários, a direção da Cargill colocou policiais militares dentro dos ônibus que transportam os trabalhadores até a fábrica, afastada da cidade, e tem chantageado com demissões o setor administrativo. “É uma loucura, estão fazendo de tudo, mas com união e a mobilização da categoria com o Sindicato, vamos vencer”, sublinha Chicão.
Outro problema grave apontado pelo Sindicato é o plano de Saúde, popularmente conhecido pelos trabalhadores como “Plano Doença”. “Nós chamamos assim porque a partir do momento em que é constatado um problema, ele é suspenso. Ou seja, enquanto o trabalhador tem saúde, ele tem acesso. Adoeceu, está excluído, e isso é extensivo para toda família”, condenou o sindicalista. Na realidade, explicou Chicão, “o plano nada mais é do que uma forma da multinacional fazer o diagnóstico de como se encontra a mão-de-obra, ver em que estágio da doença você está. Assim, à medida que o seu estado vai se agravando, os médicos comunicam à empresa, que toma conhecimento de quanto tempo tem para colocar o trabalhador na rua da amargura. Nós não vamos permitir a continuidade deste absurdo, que é a volta da escravidão”.
“O número de trabalhadores doentes é muito elevado. Aproximadamente 70% dos funcionários demitidos da Cargill sai com problemas graves: é coluna desviada, comprometimento da audição, bursite, resultado das lesões por esforço repetitivo e das doenças ocupacionais. É o LER/DORT completo, como dizemos”, destacou Chicão. Neste momento, acrescentou, “a prioridade número um é coibir a continuidade desta prática desumana, pois submete os trabalhadores a esforços muito além do que podem agüentar. É óbvio que o corpo será danificado num pequeno espaço de tempo”.
O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (Contac), Siderlei de Oliveira, ressaltou a necessidade de que as autoridades “punam exemplarmente a conduta mafiosa adotada por esta multinacional, que vem ao nosso país para extrair altos lucros, às custas da saúde e da segurança dos trabalhadores”. “Esta prática criminosa da Cargill tem sido corriqueira e vem da sua sensação de impunidade. Precisamos ser rigorosos na punição, pois é inadmissível que esta barbárie continue”, frisou.
Na tarde de ontem, o Sindicato e a Federação receberam a denúncia do transporte ilegal de 50 trabalhadores do frigorífico de aves da unidade de Sidrolândia – a 270 quilômetros de Dourados – para tentar minimizar os efeitos da greve, o que configura prática anti-sindical. Diante da irregularidade, fiscais da Delegacia Regional do Trabalho foram acionados. Com o cerco se fechando, a direção da empresa já admitiu fazer uma contraproposta, mas até o momento os valores apresentados ficam muito aquém do reivindicado pelo movimento. A greve continua.