Manifesto alerta para contaminação das sementes crioulas

Com o objetivo de alertar a população sobre o papel estratégico das sementes crioulas na garantia da segurança alimentar e na proteção da biodiversidade, várias entidades ligadas à agroecologia divulgaram na quarta-feira (18/10) o Manifesto em Defesa das Sementes Crioulas. O documento denuncia os malefícios que os transgênicos podem causar às sementes crioulas e à agricultura familiar. “As sementes são a base para a segurança e soberania alimentar de qualquer país. Mas a liberação dos transgênicos representa uma ameaça concreta de contaminação genética e perda da biodiversidade agrícola”, alerta o manifesto, que foi lançado na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba (PR).

O Manifesto em Defesa das Sementes Crioulas foi assinado pela Rede Ecovida de Agroecologia, MST, Aopa (Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia), Acopa (Associação dos Consumidores de Produtos Orgânicos do Paraná), AS-PTA (Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Familiar), Fetraf-Sul (Federação dos Trabalhadores na Aricultura Familiar da região Sul), e a Ong Terra de Direitos, e está aberto a adesão de outras entidades e movimentos sociais.

Segundo o documento, para impedir a contaminação genética é necessário proibir o cultivo de transgênicos próximos aos locais onde é praticada a agricultura agroecológica, e barrar as liberações comerciais de milho, arroz e algodão.

Os agricultores temem, entre outras coisas, que a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) ceda às pressões das empresas multinacionais e libere o plantio de milho transgênico. Com a autorização, as plantações de milho crioulo, que vem sendo cultivadas e preservadas pelos camponeses ao longo da história da agricultura, podem ser contaminadas.

O presidente da Aopa, Luiz Carlos Schmidt Bueno, explica que a preocupação vem principalmente das sementes de milho terem um cruzamento muito fácil: basta um vento mais forte ou uma abelha para contaminar a plantação crioula por organismos geneticamente modificados.

Além disso, ainda existem estudos suficientes que atestem quais os riscos para a saúde da população. “Com a biodiversidade que temos, não podemos correr o risco de deixar que os transgênicos contaminem a agricultura familiar e que os agricultores se tornem dependentes, tendo que comprar um único tipo de sementes de uma ou duas empresas que mandam nessas sementes e vão cobrar o preço que quiserem”, denuncia Bueno.

Para o integrante da Rede Ecovida de Agroecologia, Marcelo Passos, o Brasil precisa preservar as sementes crioulas para ter autonomia alimentar e garantir a segurança alimentar. Ele alerta ainda que os transgênicos podem tornar a agricultura brasileira dependente das transnacionais de sementes: “corremos o risco de ficar na mão de empresas que vão poder manipular a quantidade e a capacidade de produção de alimentos do país”.

O documento foi lançado após o Seminário de Extensão Universitária “Investir na agricultura familiar e ecológica para garantir a segurança alimentar a nutricional sustentável”, no Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Paraná.

Participaram do evento movimentos, redes e ongs voltadas a agroecologia, estudantes de Nutrição da UFPR, além de representantes do poder público federal, estadual e municipal.