Educar é tão importante quanto conquistar a terra

Além de conquistar seu pedaço de terra, os trabalhadores e as trabalhadoras rurais do maior assentamento do Paraná, o Celso Furtado, estão avançando também em outra área: a educação. São ao todo oito escolas funcionando dentro do assentamento, sendo sete delas para alunos dos primeiros anos do ensino fundamental (1ª a 4ª séries) e outra para os últimos anos do ensino fundamental (5ª a 8ª séries).

As escolas do Celso Furtado foram construídas em parceria entre os trabalhadores assentados, a prefeitura do município de Quedas do Iguaçu e o governo do Paraná. Para o coordenador do setor de educação do assentamento, Varlei Vieira, a iniciativa de criar escolas nas áreas de assentamento é uma forma de preservar a cultura, além de poupar as crianças de andar quilômetros até uma escola no centro do município. “Entre as crianças da mesma comunidade não há preconceitos se uma delas não tem uma mochila da moda ou não pode comprar sapatos para ir à escola. Elas se respeitam porque conhecem a realidade umas das outras”, diz.

O Plano de Desenvolvimento do Assentamento, elaborado pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) dividiu o assentamento em sete comunidades e as escolas estão localizadas nos centros dessas comunidades. “Assim evitamos que a criança tenha que ser sacrificada para ter acesso ao ensino”, completa Varlei.

Ensino tem participação da comunidade

Além das escolas convencionais, também funciona no assentamento uma Escola Itinerante. A iniciativa foi implantada em dezembro de 2003 pelo Conselho Estadual de Educação, em pareceria entre o MST e o governo do Paraná. Hoje, o Movimento conta com 11 escolas itinerantes, localizadas em acampamentos de nove municípios do estado, que atendem 2.500 educandos, crianças jovens e adultos, com 210 educadores.

Nas escolas itinerantes, os educadores são da própria comunidade, que auxilia nas discussões pedagógicas. “As famílias participam de todo o processo de educação das crianças e quando há algum problema com a criança, a educadora e a família discutem a questão” explica Varlei.

As crianças são preparadas também com os conhecimentos técnicos. O projeto de hortas cultivadas no sistema agroecológico está sendo implantado nas escolas. O cultivo das hortaliças é feito pelas próprias crianças, que aprendem todas as etapas do processo de produção e depois consomem os produtos na merenda escolar. “Ensinamos as crianças a aproximarem seus conhecimentos da prática, para que usem o que aprenderam em suas vidas”, finaliza Varlei.