Sociedade pressiona governo por mudanças na política econômica
Com informações do Estudantenet
A UNE (União Nacional dos Estudantes) deu ontem o pontapé inicial para desencadear um amplo movimento nacional por mudanças na política econômica do país. Em um ato público realizado na Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), a entidade reuniu 250 representantes de movimentos sociais, grêmios escolares e diretórios estudantis, além de convidados como o economista e professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Luiz Gonzaga Belluzo; o também economista e professor da Fundação Getúlio Vargas e da USP, Paulo Nogueira Batista; a deputada Jandira Feghali (PCdoB – RJ); o deputado Ivan Valente (Psol – SP), o integrante da coordenação nacional do MST, João Paulo Rodrigues; e o presidente da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), Thiago Franco.
Segundo o presidente da UNE, Gustavo Petta, o ato reuniu um campo de intelectuais e lideranças políticas que lutam para influenciar na correlação de forças dentro do governo Lula. “Esse movimento é um embrião para pressionar o governo a efetuar mudanças mais significativas na política econômica”, disse.
O economista Luiz Gonzaga Beluzzo defendeu uma reflexão permanente sobre a mudança na economia. Para ele, a democracia exige essa constante mobilização, já que “é por meio dela que as boas idéias ganham espaço dentro da sociedade”.
Beluzzo disse que esta disputa travada entre aqueles que querem uma continuidade da política econômica, com exclusão e baixo crescimento, é uma batalha política. “Temos que pensar formas alternativas às que estão aí propostas por esta equipe econômica”, disse.
O deputado federal Ivan Valente colocou a necessidade de a sociedade se mobilizar de forma organizada para que mudanças concretas ocorram. ”Não é possível fazer mudanças sem conflito. Nessa hora é preciso relembrar Che Guevara e não perdermos a capacidade de nos indignar”, afirmou.
O presidente da UBES, Thiago Franco, endossou essa opinião: ”como há pressão de todo lado nessa questão da política econômica, precisamos nos organizar e pressionar de forma unificada, pois do outro lado estão o mercado, a mídia e todo o poder econômico, que não querem saber de mudanças”, defendeu.
Ambiente favorável
Em uma análise geral sobre o cenário político brasileiro, o economista Paulo Nogueira Batista Jr. disse que as condições atuais propiciam um “ambiente político favorável” para se propor mudanças. Em sua opinião, o mercado não influencia mais tanto as decisões políticas, como fez no início do governo, quando havia uma onda de incerteza no ar. “O segundo mandato pode significar o começo de uma nova etapa da história da política econômica brasileira, que descarte de uma vez por todas o continuísmo da era FHC”, avaliou.
O integrante da coordenação nacional do MST, João Paulo Rodrigues, defendeu a necessidade de se criar uma unidade sólida, formada por todos os movimentos sociais do país e pela sociedade organizada, a fim de pressionar o governo federal pelas mudanças. Ele teme que, sem dispor de propostas concretas, as forças conservadoras do país aproveitarão a primeira brecha para impedir qualquer mudança significativa na política econômica.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) lembrou que a unidade é importante, mas destacou a necessidade de atrair mais forças políticas para essa luta. ”Há um programa mais avançado para o segundo mandato, mas, para enfrentar a mídia e as instituições financeiras, não bastam força política e sustentação institucional. Temos que formar uma frente realmente ampla de brasileiros, em suas mais variadas organizações, para lutar por mudanças concretas”, afirmou.
Próximo passo
As idéias deste primeiro encontro entre as lideranças dos movimentos sociais serão aprofundadas durante um seminário que deve ocorrer no começo de 2007, organizado pela UNE em parceria com a Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP.