Cooperativa resiste a reintegração de posse
Por Raquel Casiraghi
Agência Chasque
Trabalhadores de uma fábrica recuperada de botões em Curitiba, no Paraná, lutam para manter a produção da cooperativa e o sustento de 94 famílias. Criada no início de 2004, a Cooperbotões vem sofrendo sucessivas tentativas de reintegração de posse do imóvel onde está instalada a fábrica. O local pertenceria ao advogado da Diamantina Fossassene, antiga empresa que entrou em falência em agosto de 2004 e cuja gestão foi assumida por seus funcionários na estrutura de cooperativa. O advogado alega ter ganho o prédio da filha do proprietário da empresa como pagamento por seus honorários, mas os trabalhadores questionam a legalidade da transação.
Carlos Fontana, presidente da Cooperbotões, conta que trabalhadores, sindicatos, delegacia regional do trabalho e instâncias dos governos estadual e federal criaram um grupo de trabalho a fim de apontar soluções para o impasse. Alternativas, que vão desde o arrendamento do prédio até a compra, via financiamento federal, de uma nova área para a cooperativa estão sendo avaliadas pelo grupo, que deve tomar uma decisão nos primeiros meses desse ano. Enquanto o problema não é resolvido, os trabalhadores perdem encomendas e, conseqüentemente, deixam de aumentar a renda da cooperativa. Na última reintegração, ocorrida em novembro do ano passado, a fábrica não funcionou durante cinco dias.
“Com esses problemas que estão acontecendo, acaba prejudicando mais ainda e nos causa mais preocupação. Não temos interesse no imóvel e sim na cooperativa, para que os trabalhadores possam trabalhar. Para nós não interessa a questão do prédio e sim que consigamos continuar gerando renda e emprego aos trabalhadores”, diz.
A Diamantina Fossassene, segunda maior fábrica de botões de roupa da América Latina, entrou em falência em agosto de 2004, depois de 40 anos de atividade. No entanto, os funcionários já estavam organizados em cooperativa desde o início daquele ano e haviam tomado a empresa em abril, devido aos salários e o 13º atrasados. A empresa possuía, ao todo, uma dívida de cerca de R$ 33 milhões, entre direitos trabalhistas e outras dívidas. Depois de decretada a falência da Diamantina Fossassene, a Justiça encaminhou a gestão da fábrica aos trabalhadores, que precisaram vender todo o maquinário para pagar as dívidas antigas a fim de retomar as atividades.
Atualmente, a Cooperbotões possui 94 funcionários. Sua produção hoje, voltada somente para o mercado nacional, está em 40% da capacidade da antiga empresa. Apesar disso, Carlos considera a atuação da cooperativa um sucesso, já que os trabalhadores tiveram que recuperar clientes antigos. Outro desafio da Cooperbotões é superar o preconceito que muitos empresários ainda têm em relação a organizações de trabalhadores.
“Por ser trabalhadores que estão na frente da cooperativa muitos clientes e fornecedores não confiam na capacidade de gestão dos trabalhadores. Assim, tivemos muita dificuldade em recuperar clientes antigos que, quando viram que a cooperativa era séria, passaram a confiar no nosso trabalho. Mas com esse problema da reintegração de posse, fica mais difícil ainda”, analisa Carlos Fontana, presidente da Cooperbotões.