MST critica parceria com Bush para produção de etanol

A visita do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ao Brasil, para negociar uma parceria para a produção de agrocombustíveis e também a Jornada Nacional de Luta das Mulheres Contra o Agronegócio e Pela Soberania Alimentar foram os temas discutidos hoje por integrantes de organizações sociais, durante coletiva realizada hoje, dia 7. Participaram representantes da CUT, MST, Marcha Mundial das Mulheres e CPT.

O dirigente do MST e da Via Campesina, João Pedro Stedile citou como exemplo as conseqüências do avanço do agronegócio no Espírito Santo. O estado sofre com os efeitos das políticas da Aracruz Celulose que expulsou milhares de camponeses, indígenas e quilombolas de suas terras para a plantação de eucalipto. A região metropolitana de Vitória tem índices de criminalidade maiores que os da Colômbia, que há 30 anos, vive uma guerra civil.

“Não podemos admitir este modelo. Esperamos que o governo Lula mantenha seus compromissos com quem o elegeu, ou seja, a população pobre do Brasil quer mudanças”, afirmou Stedile, que também chamou a atenção para os grandes valores que o BNDES destina para o agronegócio: cerca de 600 milhões de reais, com sete anos de carência para o pagamento. (leia matéria sobre a ocupação)

Os representantes dos movimentos sociais presentes foram unânimes em defender os efeitos nocivos que um possível acordo, na produção de combustíveis, entre Brasil e Estados Unidos pode trazer para o povo brasileiro. Isso porque o aumento da produção do etanol, significa a intensificação das plantações do monocultivo da cana. “Não somos contra os agrocombustíveis, mas sim contra o modelo em si que quer a todo custo exportar toda esta produção”, defendeu Temístocles Marcelos Neto da CUT.

Segundo os participantes o modelo de produção baseada na monocultura contribui para a expulsão das famílias do campo e para o aumenta a pobreza e o desemprego. Um dado importante: 100 hectares de terra no agronegócio gera apenas um posto de trabalho, enquanto que na agricultura familiar, a mesma extensão de terra gera 35 empregos.

Participaram da coletiva de imprensa Maria Rodrigues, da direção estadual do MST/SP; D. Tomás Balduíno, conselheiro da Comissão Pastoral da Terra (CPT); Temistocles Marcelos Neto, integrante da secretaria nacional da CUT; Miriam Nobre, integrante da Marcha Mundial das Mulheres; e João Pedro Stedile, da direção nacional do MST e da Via Campesina.

Mobilização feminina

D. Tomás Balduíno lembrou a ação das mulheres na Aracruz no 8 de Março de 2006 e parabenizou a organização feminina no processo de reivindicar um projeto alternativo para a sociedade brasileira. Ele também alertou sobre o fato de a monocultura de eucalipto e de cana-de-açúcar está destruindo ecossistemas, como o cerrado.

A integrante da Marcha Mundial das Mulheres, Miriam Nobre, reafirmou a luta contra a mercantilização do corpo feminino e também da natureza. Segundo ela, esse é um dos motivos para que a questão dos agrocombustíveis faça parte das bandeiras dos movimentos das mulheres que atuam na cidade. “A produção deste tipo de combustível está ligada à monocultura, ao agronegócio, aos transgênicos. Fatores que afetam a vida não só das camponesas, mas de todas. Por isso queremos Bush (e tudo o que ele representa) fora do Brasil, da América Latina, do Mundo”.

Os movimentos de mulheres do campo e da cidade, juntamente com outras organizações sociais realizam neste dia 8 uma grande mobilização por soberania alimentar e igualdade de gênero e contra a visita de Bush ao Brasil. Na capital paulista, a concentração será às 15h, na Praça Osvaldo Cruz. De lá as manifestam caminham até o vão livre do MASP. A expectativa é reunir cerca de 20 mil pessoas.