Bancos lucram, mas sociedade não

Luiz Renato Almeida
Agência Chasque

As 104 instituições financeiras que atuam no Brasil registraram rentabilidade de R$ 33,4 bilhões em 2006, o que representa um retorno de 22,9% sobre o patrimônio líquido do setor. É o segundo ano consecutivo em que os bancos apresentam recorde de rentabilidade. As informações constam nos balanços enviados pelas instituições bancárias ao Banco Central do Brasil no início deste ano. A rentabilidade é quanto o banco consegue lucrar em relação a seu patrimônio.

O presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, Juberlei Bacelo, explica que, com o fim da inflação, os bancos começaram a cobrar tarifas pelos serviços, o que garantiu a manutenção dos seus lucros. “Hoje nós temos vários bancos que arrecadam uma folha de pagamento e meia só em tarifas. E outra fonte de rentabilidade dos bancos é a compra de títulos públicos do Governo que, em função da altas taxas de juro, garantem uma grande remuneração, sem riscos, para os bancos”, afirma.

Dados do Banco Central mostram que, entre 1996 e 2006, o faturamento dos bancos com o aumento de tarifas cresceu 293%. Enquanto isso, a folha de pagamento cresceu 55%, e a inflação medida pelo IPCA, 92,7%.

Juberlei Bacelo afirma que os bancos conseguem se adaptar às mudanças na política econômica, sempre se beneficiando com ela. Ele diz que a redução das taxas de juros não deve afetar os altos lucros dos bancos, assim como ocorreu com a diminuição da inflação. “Os bancos não quebraram por causa das altas taxas de juros, que começaram a ser praticadas no País a partir daí, e por conta da cobrança de tarifas, que a cada ano vem crescendo a rentabilidade neste setor. O que vem acontecendo agora, do ano passado para cá, é que com a queda das taxas de juros, está ocorrendo um aquecimento no crédito no Brasil. E os bancos, então, começam a ter uma boa rentabilidade na área de crédito”, diz.

Para o presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, o recorde na rentabilidade dos bancos não se reflete em melhores serviços para o cliente nem em melhores salários para os bancários. Apesar de ganharem Participação nos Lucros e Resultados (PLR), os bancários possuem metas cada vez maiores para cumprir, ganham baixos salários e encontram dificuldades nas negociações salariais com os bancos. “Essa rentabilidade não tem se revertido em melhores salários. Muito pelo contrário, nós sempre temos dificuldades em negociar. O banqueiro, assim como ele é duro no atendimento, na sua negociação com os clientes, ele também é duro na hora de negociar o salário com os seus empregados”, afirma.

Juberlei Bacelo critica também a falta de investimentos em serviços para clientes. Um dos pontos críticos que ele aponta é o da segurança nos bancos, que não teria investimentos por parte das instituições. Só nos três primeiros meses de 2007, foram 37 ataques a bancos no Rio Grande do Sul. Iniciativas como a instalação de portas giratórias nas agências e limitação do tempo de espera nas filas nasceram da pressão dos funcionários, e hoje são questionadas pelas instituições.