Veja causa polêmica ao falar de Dom Ivo; CNBB lança nota

Um texto publicado na revista Veja desta semana, sobre a morte do bispo emérito de Santa Maria, Dom Ivo Lorscheiter, tem gerado revolta no meio religioso brasileiro. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota oficial, repudiando o texto da revista Veja. Na nota, a CNBB exige uma reparação da revista e questiona a quem interessa a “segunda morte” de Dom Ivo Lorscheiter.

“Assistimos nestes dias, após sua morte, a uma apresentação de sua memória através dos meios de comunicação; o livro de sua vida vem mostrando páginas que o dignificam. Seus méritos são confirmados por todos aqueles que o conheceram de perto e privaram de sua amizade; por aqueles que têm senso de justiça e verdade […] Não é justo falar, como faz a Revista Veja, que Dom Ivo politizou o Evangelho para o bem e para o mal” (leia nota abaixo).

Na seção “Datas”, a publicação semanal da Editora Abril diz que Dom Ivo apoiou a criação de bandos armados, que teriam dado origem ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, e chama a Teologia da Libertação de uma “excrescência saída da cabeça de padres” latino-americanos.

O bispo de Santa Cruz do Sul (RS), Dom Sinésio Bohn, afirma que, durante toda a sua trajetória, Dom Ivo foi perseguido pela imprensa conservadora, entre a qual figura a publicação da editora Abril. “Ela é uma delas, que sempre foi caluniosa, falsa, injuriosa, injusta e difamatória. Estão coerentes com sua história. Este grupo sempre caluniou Dom Ivo e a Igreja. São, realmente, um grupo, do ponto de vista da verdade, absolutamente sem credibilidade”, afirma.

Dom Sinésio disse que nem a morte de Dom Ivo foi respeitada pela revista. “Dos mortos não se fala mal. Nem isso, eles são capazes de fazer. Porque ele sempre foi firme, impertubável. Sempre defendeu o que parecia justo, verdadeiro. Ele também se pegou com as esquerdas, dentro e fora da Igreja. Seguiu sua consciência e sempre defendeu os direitos humanos”.

Dom Ivo Lorscheiter foi Secretário Geral da CNBB entre 1972 e 1978. Depois, assumiu a presidência da entidade, onde ficou até 1986. Neste período, se notabilizou por defender publicamente os perseguidos pela ditadura militar. Também apoiou o MST, na época do seu surgimento, na região Norte do Rio Grande do Sul.

Uma das lideranças do MST que viveu esta época, Mario Lill, opina sobre as afirmações da revista Veja. “Talvez essas fofocas que a Veja anda lançando estejam ligadas a isso. Porque a Veja sempre foi uma defensora do latifúndio, e todo aquele que questionou o latifúndio foi caçado”, diz.

Dom Ivo Lorscheiter morreu na tarde do dia 5 de março, no Hospital da Caridade de Santa Maria. Ele tinha 79 anos.

Nota Pública: DOM IVO NO BANCO DOS RÉUS?

Dom José Ivo Lorscheiter, bispo emérito da diocese de Santa Maria-RS, ex-secretário-geral e ex-presidente da CNBB, por 16 anos, faleceu no dia 05.03.07. Pastor dedicado ao povo, ele doou sua vida pela Igreja e pelo Brasil em momentos difíceis da nossa história recente.

Assistimos nestes dias, após sua morte, a uma apresentação de sua memória através dos meios de comunicação; o livro de sua vida vem mostrando páginas que o dignificam. Seus méritos são confirmados por todos aqueles que o conheceram de perto e privaram de sua amizade; por aqueles que têm senso de justiça e verdade.

Dom Ivo contribuiu para a solidificação da colegialidade episcopal e valorizou a missão dos colegas bispos. Naquela hora do Brasil, foi a pessoa certa para a defesa dos direitos humanos e da dignidade da pessoa; seu testemunho de vida confirmou a certeza evangélica de que o maior é aquele que serve.

No entanto, como acontece geralmente na biografia dos grandes pastores, não faltaram incompreensões e injustiças contra o seu testemunho. Não é justo falar, como faz a Revista Veja (cf. Veja, 14 de março de 2007, p. 84) que Dom Ivo “politizou o Evangelho para o bem e para o mal”. Sem meias palavras, a referida Revista acusa o bispo de um crime: “o bispo também apoiou a criação de bandos armados que, a pretexto de lutar pela reforma agrária, deram origem ao MST”. Onde estão esses “bandos armados”? Qual foi o nome deles? Como se explica que o sistema de segurança da época não denunciou nem processou Dom Ivo? A quem interessa uma segunda morte de Dom Ivo Lorscheiter?

A CNBB sente profunda dor e manifesta seu firme repúdio às acusações infundadas contra Dom Ivo, exigindo da Revista a justa reparação ao mal feito.

Brasília, 14 de março de 2007

Cardeal Geraldo Majella Agnelo – Arcebispo de São Salvador (BA) e Presidente da CNBB
Dom Antonio Celso de Queirós – Bispo de Catanduva (SP) e Vice-presidente da CNBB
Dom Odilo Pedro Scherer – Bispo Auxiliar de São Paulo e Secretário-geral da CNBB