Não há o que festejar no Dia Mundial da Água
Adital
Aquecimento global, escassez e falta de saneamento, são algumas das principais preocupações que serão levantadas em todo o mundo no Dia Mundial da Água, celebrado hoje, dia 22. Este ano, a Organização das Nações Unidas chama para “afrontar” a escassez que, atualmente, atinge a 1 bilhão e 200 milhões de pessoas em todo o mundo. Os últimos dados também não são alentadores, pois em 20 anos, se não houver uma ação mais incisiva, o problema atingirá dois terços da população mundial.
No Brasil, a organização reúne autoridades e integrantes da sociedade civil num grande ato em Foz do Iguaçu. O momento servirá para a assinatura de um pacto nacional pela conservação das águas no Brasil, além de debates e apresentações de experiência bem sucedidas para o combate à escassez da água. Também está programado um show com a cantora baiana Maria Bethânia.
Já em Belo Horizonte, Minas Gerais, onde acontece até o dia 23 o 6º Fórum das Águas para o Desenvolvimento Sustentável, o tema central não poderia deixar de ser outro: a transposição ou a revitalização do Rio São Francisco. O professor Apolo Heringer Lisboa, que coordena o projeto Manuelzão, afirmou que a transposição é um grande equívoco, pronto para beneficiar a indústria da seca e favorecer os grandes empresários.
Uma romaria levou, no dia 17, centenas de pessoas na Serra do Teixeira, na Paraíba, numa via sacra que serviu para ressaltar a realidade da Amazônia e como os problemas da região também estão no contexto nordestino como a poluição e o uso de agrotóxicos. Também foram repassadas para as comunidades as iniciativas que estão sendo feitas para combater a escassez da água.
Em Rosário, na Argentina, o dia 22 será celebrado com uma série de atividades levadas à frente por diversas organizações sociais, em frente ao Monumento Nacional da Bandeira. Haverá apresentação do trabalho de Dante Taparelli, artista local que trata, em suas obras, das questões da sociedade urbana e da água. Além disso, as organizações em parcerias com as escolas estarão fazendo uma atividade divulgando os problemas sociais e ambientais ligados à água.
No México, o Dia será celebrado em Jalisco (Guadalajara) e terá o objetivo de conscientizar as população sobre a importância de conservar o recurso natural, considerado já escasso em quantidade e em qualidade. Em Quito, Equador, acontece a ação “Não às transnacionais Mineiras que são: saques, contaminação e morte”.
Muitos problemas e desafios
Para o agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Roberto Malvezzi, o aquecimento global é, sem dúvida, a questão nova que se coloca. O derretimento das geleiras vão diminuir consideravelmente o volume de água doce e nas regiões áridas a temperatura deverá aumentar, interferindo diretamente nas plantações e no modelo de vida de seus habitantes, que terão mais problemas para armazenar água.
O principal desafio, afirma, é fazer com que o mundo tenha consciência do problema. E, diante dos dados da ONU, de que em 2025, serão 4 bilhões de pessoas sem acesso à água, se nenhuma providência for tomada agora, faz-se mesmo necessário que as entidades se mobilizem para combater a escassez do líquido.
No Brasil, fala Malvezzi, o Marco Regulatório de Saneamento, pode ser considerado um ponto positivo, desde que seja implementado de fato. O Atlas do Nordeste também deverá ser levado em consideração, uma vez que apresenta uma mapeamento da região e propõe algumas soluções.
“Agora, trata-se de vontade política. Os projetos existem, faltam serem executados. No mais, a luta está sempre contínua, no sentido em que a população está mais consciente deste problema”, afirmou.
Aldo Santos, da Articulação do Semi-Árido e da organização não governamental Canto Sabiá, de Pernambuco, explica que neste dia 22, a articulação deve reforçar suas lutas contra a transposição do rio São Francisco e contra o processo de privatização das águas. “Temos a água como um direito comum para a população. Lutamos para que seja democrático o acesso à água”, disse, ressaltando que desde o início do mês, vem-se fazendo atividades centradas na água.