Queremos participar do destino da nação!
Por Luiz Bassegio
De 21 a 25 de março aconteceu, em São Paulo, a Plenária Nacional da Assembléia Popular e o 9º Encontro de Articuladores/as do Grito dos Excluídos/as. Estiveram presentes representantes de 20 estados do país e vários movimentos sociais e populares. Na análise de conjuntura, constatou-se que o capital internacional domina a nossa economia e o governo brasileiro não está interessado em mudar. Embora a promessa de Lula no segundo turno das eleições, de se aproximar dos movimentos sociais, o governo continua neoliberal e cada vez mais comprometido com a burguesia nacional e com o poder econômico internacional. O PAC – Programa de Aceleração do Crescimento é mais uma peça publicitária. Não cria nem desenvolvimento e nem crescimento, pois não altera a taxa de investimento, que é de 17% do PIB. Para crescer 5% ao ano, seria necessário investir 25% do PIB.
Por outro lado, na visita de Bush ao Brasil, Lula não passou de mero figurante. Os interesses do presidente norte-americano eram no mercado e no empresariado. Não foi à toa que a comitiva se reuniu em São Paulo, num hotel onde ninguém pode se aproximar, saber quem chegava ou saía, ou ainda acompanhar as conversas. Tudo foi a “sete chaves” entre Bush e os donos da economia que mandam no país.
Neste segundo mandato, Lula se recompôs de forma mais definida com a classe dominante. As bancadas parlamentares já não são tão partidárias. Representam mais as empresas e interesses corporativistas. Ao contrário do que prometeu no segundo turno, onde precisou mais uma vez dos movimentos sociais para se eleger, Lula foi ainda mais para a direita. Afinou-se com setores da burguesia e, acredite se quiser, declarou à imprensa que agora os heróis são eles. Ao governo, não interessa mais estimular a participação popular. Pelo contrário, quer distância dos movimentos sociais. Só mesmo muita organização e mobilização podem alterar esse quadro.
Grito dos/as Excluídos/as
Com o lema “Isto não Vale, queremos participação no destino da nação”, haverá em todo o Brasil, em 07 de setembro, o 13º Grito dos/as Excluídos/as. Durante a Semana da Pátria, realizaremos ainda o Plebiscito Popular que consultará a população sobre a anulação do Leilão fraudulento da Companhia Vale do Rio Doce. Será um processo onde discutiremos com a população o que Vale e o que não Vale. A partir do lema do grito, poderemos nos perguntar o que vale e o que não vale na construção de um projeto popular.
Não vale
Vender a CVRD – Companhia Vale do Rio Doce – por 3,3 bilhões de reais, não Vale! O valor estimado em 1997, época do Leilão, era de 92 bilhões de reais, ou seja, 28 vezes mais do que aquele pelo qual foi vendida. Também não vale o Banco Bradesco ter sido um dos avaliadores da companhia e, ao mesmo tempo, de forma camuflada e fraudulenta, um dos compradores deste verdadeiro patrimônio público brasileiro.
Não vale o superávit primário que retira recursos destinados à educação, saúde, moradia, reforma agrária e transporte. Não vale continuar pagando a dívida externa e interna em detrimento dos investimentos sociais, sem realizar uma auditoria pública.
Não vale dobrar-se diante das políticas neoliberais deste modelo econômico que não resolve os problemas do povo, destrói o meio ambiente e aprofunda a nossa dependência. Mas também não vale os movimentos sociais preocuparem-se apenas com sua agenda e não investir no conjunto de lutas articuladas para mudar este modelo.
Não vale a corrupção, a impunidade; a transposição das águas do rio são Francisco, a violência e o desemprego. Não vale a democracia representativa que só tem representado os interesses do capital; não vale o aumento absurdo dos 15 salários anuais dos deputados e senadores, enquanto o povo morre de fome. Também não vale destruir o meio ambiente com as monoculturas da cana, soja e gado. E não vale os cortadores de cana cortarem mais de 15 toneladas de cana-de-açúcar por dia, para engordar o bolso dos usineiros. Lembrando que muitos morrem por fadiga.
Agora, não vale de jeito nenhum presidente Lula, você declarar em alto e bom som que os usineiros são heróis nacionais e internacionais e ainda chamar o presidente Bush de companheiro. O que aconteceu com Vossa Excelência? Não eram os heróis a sua categoria? Ou seja, os operários brasileiros?
O que vale então?
Vale o Plebiscito Popular pela anulação do Leilão e a pela Reestatização da Vale do Rio Doce. Este exercício pedagógico de participação popular garante a soberania da nação sobre o patrimônio do povo brasileiro. Vale mais ainda o presidente Lula ter dito no segundo turno das eleições passadas que “foi um erro a privatização da Vale do Rio Doce”. E isso, faremos questão de cobrar.
Vale realizar assembléias populares municipais e estaduais para construir o Plebiscito Popular que visa não só anular o leilão, mas, fundamentalmente debater o Projeto Popular Alternativo para o Brasil.
Vale manter a autonomia das forças populares, estimular as lutas sociais, retomar o trabalho organizativo de base e a formação política dos militantes.
Vale a ética, a transparência, a solidariedade, a simplicidade, a generosidade, a gratuidade, a resistência e a teimosia. Vale a mobilização e a pressão de baixo para cima, destacando o protagonismo popular.
Vale a luta do dia a dia e o trabalho com salário digno.
Vale a democracia direta e participativa. Vale a vida. Vale, acima de tudo, a nossa teimosia.
Luiz Bassegio é coordenador do Grito dos Excluídos Continental e do Serviço Pastoral dos Migrantes.
Texto originalmente publicado no Correio da Cidadania