Encontro Sepé Tiaraju reunirá milhares em Porto Alegre
A segunda edição do Encontro Internacional Sepé Tiaraju e o Povo Guarani deve reunir pelo menos quatro mil pessoas no Parque da Harmonia, em Porto Alegre. O Encontro começa amanhã, dia 11, e vai até o dia 14 de abril.
O primeiro encontro ocorreu no dia 7 de fevereiro do ano passado, em São Gabriel, marcando os 250 anos da morte do líder guarani. O evento em Porto Alegre seguirá contando com a participação de milhares de trabalhadores ligados a movimentos sociais e indígenas de diversos países.
São esperados cerca de mil indígenas da etnia Guarani, vindos da Bolívia, Paraguai e Argentina, além de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. A Assembléia Continental Guarani será um momento para reflexão sobre a realidade enfrentada pela etnia nestes países, na perspectiva de uma articulação política mais ampla, processo que começou a ocorrer em São Gabriel, no ano passado. “A articulação entre os Guarani do Rio Grande do Sul com os de outras regiões do Brasil e de outros países tem se ampliado muito desde o primeiro encontro em São Gabriel”, avalia Roberto Liebgott, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
Movimentos sociais
Além dos Guarani, também realizarão suas atividades os indígenas das etnias Caingang e Charrua. O encontro também será um espaço de articulação entre os movimentos indígenas com organizações de trabalhadores urbanos e rurais.
O Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD) deve reunir cerca de 250 pessoas para o seu encontro nacional. Os integrantes do movimento irão debater a situação de desemprego no Brasil e trocar experiências sobre as alternativas criadas pelo MTD em todo o País. São esperadas delegações de Minas Gerais, Paraíba, Ceará, Bahia, Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Os movimentos camponeses, que integram a Via Campesina do Rio Grande do Sul, aproveitarão a atividade para debater o tema da produção de energia nas pequenas propriedades familiares. Os catadores de material reciclável e as comunidades quilombolas do Estado também terão suas atividades próprias. O encontro em Porto Alegre também contará com uma assembléia estadual do Levante Popular da Juventude.
O encontro terá atividades específicas de cada organização e espaços conjuntos de todas as organizações. Na sexta-feira, dia 13, às 9h, os participantes do encontro realizam a marcha “Sepé Tiaraju”, do Parque Harmonia em direção ao Palácio Piratini. Ao final do encontro, no sábado, as organizações apresentarão a “Carta Continental das Lutas Sociais”, um documento que expressará as reivindicações do conjunto dos movimentos sociais presentes no evento.
“O significado maior do encontro é a construção de pautas conjuntas. O acesso à terra, a educação pública, saúde e a soberania alimentar são direitos de todas as etnias”, afirma Magali de Rossi, integrante da organização do evento.
Programação cultural
O II Encontro Internacional Sepé Tiaraju e o Povo Guarani também contará com uma programação cultural aberta ao público. Na sexta-feira, às 19h, o grupo de atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz apresenta uma peça sobre a saga de Canudos. Em seguida, haverá um espetáculo musical, com a participação de grupos de jovens e corais indígenas.
No sábado, um seminário no centro de eventos do Parque Harmonia discutirá “As raízes indígenas na luta rio-grandense e o compromisso com a luta social”, com a participação de lideranças Guarani e estudiosos dos Sete Povos das Missões. No mesmo dia, acontece uma feira de artesanato indígena no largo Glênio Peres, em frente ao Mercado Público.
Na noite de sábado, um grande show regionalista terá nomes como João de Almeida Netto, Antonio Gringo, Jorge Guedes, Odilon Ramos, Atahualpa e Waldomiro Maicá, Laura Guarani, Clari Costa e Pedro Munhoz, entre outros. O evento começa às 20h e tem entrada gratuita.
Sepé Tiaraju
Morto em 7 de fevereiro de 1756, onde hoje está localizado o município de São Gabriel, Sepé Tiaraju liderou a resistência dos Sete Povos das Missões contra o tratado de limites, celebrado entre Espanha e Portugal, que expulsaria os indígenas para o outro lado do rio Uruguai. Em mais de um século de existência, os indígenas das Missões Jesuíticas construíram uma rica experiência de sociedade justa, fraterna e igualitária, sendo qualificada como “um verdadeiro triunfo da humanidade” pelo pensador Voltaire.
Sepé foi morto no local conhecido hoje como Sanga da Bica. Três dias depois, mais de 1,5 mil guaranis foram dizimados pelos exércitos de Espanha e Portugal, no local conhecido como Coxilha do Caiboaté.