Professores na Argentina exigem a renúncia de governador

Stella Caloni
Brasil de Fato

Dezenas de milhares de manifestantes em toda a Argentina fizeram homenagem na segunda-feira (9) ao professor Carlos Fuentealba, assassinado em 5 de abril de 2006 pela polícia no Estado de Neuquén, Sul da Argentina. Os docentes fizeram uma paralisação total de atividades em todo o país, convocados pela Confederação dos Trabalhadores da Educação da República Argentina (CTERA), e respaldados pelas duas principais centrais argentinas, cujos dirigentes pediram a renúncia do governador Jorge Sobisch.

Em Neuquén, os professores fizeram acampamentos ao redor da Casa de Governo e advertiram, durante um protesto que reuniu mais de 30 mil pessoas, que manterão suas mobilizações por tempo indeterminado até conseguir uma reivindicação salarial justa, a renúncia do governador Sobisch e dos ministros da Justiça e Educação.

Escolas, colégios secundários e universidades – incluindo instituições privadas – pararam. Os profissionais do metrô prepararam um cronograma de passe livre pela manhã para que todos pudessem assistir à marcha. Além de interrupções durante duas horas, foram estabelecidos turnos mínimos nos hospitais e os bancos praticamente não funcionaram na manhã da segunda-feira.

Cerca de 180 atos se realizaram em todo o país com o lema “chega de repressão às demandas sociais e não à impunidade” que traçaram a CTERA e a Central de Trabalhadores Argentinos (CTA). Os protestos também se estenderam a Rosário (Centro-Oeste), Córdoba (Centro), Mendoza (Oeste), Salta (Norte), Jujujuy (Norte) e Mar del Plata (Sul).

Doutrina de Segurança

O presidente Néstor Kirchner repudiou “fortemente” a violência, advertiu que aqueles com o monopólio da seguridade têm a responsabilidade de garantir a convivência e sustentou que o professor Fuentealba foi “fuzilado”, como denunciou a sua esposa, Sandra Rodríguez.

O presidente foi mais longe ao falar de setores políticos que apóiam uma nova Doutrina de Segurança, em referência à que se impôs durante a ditadura militar (1976-1963), e foi crítico com alguns meios e setores que pedem mais repressão, ao assinalar que prefere que o julguem como “permissivo” a ser tido como quem recorre à violência.

Kirchner criticou o editorial do jornal conservador La Nación e chegou a ler um editorial de 27 de junho de 2002, publicado um dia depois da brutal repressão policial em Avellaneda, província de Buenos Aires, onde foram assassinados os jovens Darío Santillán e Maximiliano Kosteki O diário defendeu as forças policiais.

Em declarações ao La Nación, o próprio governador Sobisch admitiu ser o responsável político pela morte de Fuentealba e acusou o presidente Kirchner de atuar com “covardia”.

Mais incidentes

Na província de Salta, no extremo Noroeste, onde os professores estão em greve há duas semanas, houve incidentes quando uma pequena coluna se desprendeu da marcha central, da qual participaram mais de oito mil docentes, e tentou entrar à força na sede do Legislativo, sendo repelidos com gases lacrimogênios.

Na capital Buenos Aires, milhares de pessoas, entre elas as Madres de Plaza de Mayo (Mães da Praça de Maio), personalidades de organismos humanitários e sociais, encabeçados pela CTERA, a CTA e dirigentes estudantis que apoiaram o protesto marcharam do tradicional Obelisco até a Casa de Neuquén, em repúdio ao assassinato do professor Fuentealba.

Em frente à casa de Neuquén, onde havia um sentimento geral de indignação e dor, o dirigente de CTERA Hugo Yasky pediu a renúncia de Sosbish, considerado autor intelectual e o “o verdadeiro assassino”, como gritavam em coro, entre o pranto e emoção de milhares de “neuquinos” no Sul.

Os grupos mais radicais de esquerda se desprenderam da marcha central porque queriam focar sua demanda sobre Kirchner, apesar de ele estar em forte conflito cmo Sobisch, resultando na divisão da marcha. Em Nequén, no entanto, descobriu-se que o policial acusado pela morte do professor Fuentealba havia sido condenado antes por violência e estava proibido de continuar em seu cargo, entretanto, participou na operação das forças especiais.

Em um documento das Madres Fundadoras de Plaza de Mayo (Mães Fundadoras da Praça de Maio), o governador Sobisch foi comparado aos chefes da ditadura militar: “o governo de Neuquén admite que ordenou a repressão, mas não assume a responsabilidade das conseqüências”, disse Nora Cortiñas, e completou “o autor material merece ir para a cadeia. Temos que aprofundar a luta para condenar o assassino intelectual”, finalizou.