MST ocupa área do Exército em Santa Catarina
O MST ocupou com 500 famílias, na manhã de domingo, dia 15, uma área de 10,5 mil hectares que pertence ao Exército brasileiro para pedir a criação de um assentamento no local, no município de Papanduva, planalto norte do Estado, em Santa Catarina. Depois de acordo com o comando do Exército, os Sem Terra saíram do espaço na manhã desta segunda-feira, 16.
A maior parte das terras, localizadas em uma das áreas mais férteis do estado, é improdutiva ou foi arrendada para o agronegócio da soja. A ocupação contou com o apoio de outras organizações, como movimentos sociais do campo e da cidade, estudantes e movimentos da juventude.
No meio da tarde de ontem, o Exército começou a cercar o acampamento e, portando um arsenal de guerra, com tanques, escopetas e fuzis, ordenou a desocupação da área pelas famílias. Com a truculência do Exército, o clima ficou tenso e começaram as negociações entre os Sem Terra e o comando do Exército.
Enquanto o Exército realizava a guerra psicológica, os agricultores iniciaram as articulações políticas no sentido de abrir as negociações diretamente com o governo Federal. A senadora Ideli Salvatti (PT) e a ex-deputada Luci Choinacki (PT) intermediaram as negociações e conseguiram contato com o ministro da Defesa Waldir Pires, ainda no domingo.
Do outro lado o Exército intensificava pressão, realizando manobras com os tanques de guerra e ameaçando retirar as famílias com o uso da força. Segundo os trabalhadores, a ação do Exército relembrava os tempos do regime militar. As ameaças eram feitas oralmente com a utilização de equipamentos de som. Com isso, as famílias ficaram em estado de pânico, especialmente as crianças.
O MST tentou negociar com o Comando do Exército o fim da tortura psicológica. Após uma hora e meia, ficou acordado que o Exército pararia com as manobras e, em contrapartida, as famílias se comprometeram em desocupar a área na segunda-feira (hoje) pela manhã. O acordo foi cumprido por ambas as partes.
As negociações já estão avançadas e a senadora Ideli Salvatti está articulando uma audiência, que poderá ocorrer ainda nesta semana, com o ministro Pires e com o ministro da Secretaria Geral, Luiz Dulci. A ação retoma também uma questão de justiça social para as 41 famílias de pequenos produtores expulsas da área na década de 60, quando essa foi cedida para o Exército Nacional como campo de manobras militares. Até hoje as famílias não foram ressarcidas.