Mística e reflexões sobre a conjuntura abrem o 5º Congresso
Eduardo Sales de Lima
de Brasília (DF)
Palavras de ordem e milhares de bandeiras vermelhas anunciavam o início do 5° Congresso do MST. A abertura oficial contou com a já tradicional apresentação da mística. Nela foi ressaltada a história da luta pela Reforma Agrária, dentro da trajetória do MST, desde a repressão militar até a configuração dos grandes grupos econômicos, hoje parceiros da repressão estatal. A dirigente nacional do MST, Marina dos Santos, deu as boas vindas aos quase 18 mil trabalhadores Sem Terra, que vieram de 24 estados para participar do Congresso.
No bem humorado enredo da mística, que contou a história do Movimento, desde a sua fundação em 1985, até chegar os dias de hoje, destaque para a celebração do casamento entre o latifúndio e o agronegócio, ambos representados por bonecos gigantes caricaturados. Em clima de sarcasmo, os convidados desse casamento, não poderiam ser outros: os usineiros, a mídia corporativa e o “Zé Pelego”, ironicamente chamado de representante da classe trabalhadora.
Durante sua saudação aos militantes, Marina ressaltou a importância do 5º Congresso para a atual conjuntura política nacional. “No amanhã, nosso 5º Congresso será considerado um dos maiores eventos de camponeses do Brasil e do mundo”, afirmou. Segundo ela, essa grande participação se deve, entre outras coisas, a maior organicidade do Movimento. Para Marina, o povo organizado e um muro invencível, e esta é uma oportunidade, dentro da conjuntura atual, de os militantes do Movimento crescerem mais e mais nos valores humanistas e socialistas.
A integrante da coordenação nacional também fez críticas ao governo federal, que segundo ela, mantém a mesma política do mandato anterior, que é de beneficiar as elites e o capital internacional, e, também destacou o crescimento do caráter internacionalista do Movimento, sobretudo, dando apoio a luta dos povos dos países da América Latina. Ao falar do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, criticou a hipocrisia dos grandes meios de comunicação brasileiros, que criticaram a decisão do venezuelano de não renovar a concessão pública da RCTV. “A luta dos trabalhadores é internacional. Demonstramos nossa solidariedade ao governo da Venezuela”, diz.
Presente na mesa de abertura, Artur Henrique, presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), falou da importância de construir a unidade entre os movimentos populares. “Precisamos de uma estrategia conjunta e fazer uma aliança dos movimentos sociais e colocar as massas nas ruas para pressionar o legislativo, o executivo e o judiciário.”
Plácido Junior, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), reforçou a idéia de que o MST precisa retomar o espírito de sua origem e projetá-lo cada vez mais para a realidade. Na luta contra o agronegócio e contra a nova febre chamada agrocombustível. “O campesinato deve produzir para se alimentar, e produzir melhor a energia, que e o alimento”, ressaltou.
Com palavras de ordem “Reforma Agrária: por justiça social e soberania popular”, lema do Congresso, os militantes-artistas concluíram a apresentação da mística cuspindo fogo. O fogo que alimenta a luta por uma Reforma Agrária, e que nas palavras da dirigente Marina, alimentam também a mudança dos valores. Segundo ela, o corpo físico pode morrer, menos os valores humanistas, que proporcionarão a verdadeira revolução.
A abertura do 5º Congresso Nacional do MST, realizada na noite dessa segunda-feira, 11, contou também com a participação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da Associação Brasileira de Ongs (Abong), União Nacional dos Estudantes (UNE), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e da centrais sindicais Conlutas e Intersindical. Na platéia representantes de partidos políticos como o PSOL, PT, PC do B, PCB e PDT, além de representantes internacionais, como da Palestina e do México.
Brasil de Fato