A colonização disfarçada de Reforma Agrária

Pedro Carrano,
Brasil de Fato*

Os três vivem em Rondônia e têm em comum o fato de serem migrantes, ou filhos de agricultores que deixaram a terra onde viviam. Procuraram o Estado em nome do discurso da colonização da Amazônia, que continua atraindo trabalhadores, isso desde os anos 1970, em uma política de colonização criada pelo governo militar.

Os agricultores Sem Terra do MST, Leôncio Onofre Santana, Aureni de Almeida Miranda e Lino de Oliveira Paradela, denunciam a política de Reforma Agrária em Rondônia, para onde os trabalhadores migram, mas recebem as áreas afastadas, não conseguem incentivos e logo ficam submissos e entregam seus lotes às madeireiras. Os três estiveram presentes no 5º Congresso do MST, junto com outros 150 companheiros da delegação daquele Estado.

O Poder Público promove o povoamento em regiões desabitadas, uma prática conhecida como expansão da “fronteira agrícola”. Na visão dos três agricultores, tal política está associada com os interesses das madeireiras – que migram na mesma velocidade das pessoas –, incentivando a migração, para que mais tarde as empresas possam se instalar nos locais onde a floresta já vem sendo explorada.

“As madeireiras promovem o fluxo de gente para mais tarde ter a justificativa para entrar numa área, comprando os lotes ou as madeireiras menores”, aponta Paradela.

Há no Estado, 48 assentamentos do Incra, alguns com 15 anos. Destes, cerca de 60% não possuem a menor infra-estrutura. “Não há estrada, habitação, as famílias ainda não foram legalizadas. O Incra de Roraima sempre foi um espaço de disputa e projeção política. As pessoas que entravam eram por indicação dos fazendeiros e isso acaba facilitando a questão da grilagem de terra no Estado”, explica Ezequias David da Silva, militante do MST, que também participou do Congresso.

Outra dificuldade é o difícil acesso às áreas. Segundo Silva, quando chega o período chuvoso, a situação piora. “A maioria das áreas é intransitável. Só se consegue chegar ao acampamento se você tiver um barco. O Incra fez um levantamento e viu que 70% das famílias do Estado abandonam o lote, mas infelizmente ele não fez uma pesquisa sobre a precariedade da infra-estrutura nos assentamentos. Elas não vão permanecer no campo, porque é uma situação desumana”, avalia.

* Colaborou Mayrá Lima