No Ceará, assentamento avança com cooperativa

Mayrá Lima,
de Brasília (DF)

“A gente ocupou a Fazenda Camará. Em 1997, quando a terra veio, começamos a produzir castanha. A partir daí, na forma de organicidade, nós ficamos em grupos de famílias e nos últimos três anos a gente montou a cooperativa de beneficiamento. São duas no assentamento. Conseguimos agregar famílias assentadas na Central, que fica no município de Pacajus.”

Esse relato inicial foi feito por Francisco Ferreira, dirigente do assentamento José Lourenço, em Chorozinho, no Ceará, que, desde 1997, está vinculado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Lá, são 71 famílias organizadas que já possuem suas casas construídas, colégios, energia elétrica, iluminação pública. Parte destes investimentos em infra-estrutura vieram através do Projeto São José, do governo estadual; a outra parte, como o piçarramento da estrada, a água, os poços profundos são conquistas dos assentados na luta.

A castanha de caju é o principal produto fabricado pelo assentamento. No entanto, o feijão, o milho também têm seu espaço nos lotes individuais e coletivos dos assentados. “A gente guarda para o consumo e vende para o mercado interno. Em relação à venda, ainda não conseguimos o convênio definitivo. A rapadura de caju e o mel nós ainda não conseguimos o mercado”, diz Ferreira.

No Nordeste, ao contrário da região Norte, é comum a parceria dos assentamentos com o Incra, as universidades federais e estaduais, a Embrapa e a facilidade de concessão de créditos, através dos bancos, como o Banco do Brasil e o Banco do Nordeste. No caso do assentamento José Lourenço, a proximidade com a capital cearense – são apenas 40 quilômetro – facilita o comércio para a população local ou a própria visita dos compradores dentro do assentamento.

“A cooperativa já é toda legalizada e tem acesso para exportação”, explica o assentado. Mesmo com os avanços, as dificuldades existem e elas se materializam no principal problema para os nordestinos: a falta de acesso à água. “ Lá é sertão, não tem açude nem barragens e nem o Estado nem o município tem política a respeito”. Mesmo com as barreiras, a organicidade é mantida dentro do assentamento e isso parece ser o principal fator que faz com que o Zé Lourenço seja referência no Estado do Ceará. “Nós trabalhamos a forma da nucleação. Temos equipe de Saúde, Liturgia, Teatro, grupo de mulheres, Cultura, Saúde bioenergética, que trabalha a medicina natural. Nós temos um projeto de rádio que ainda está parado. Acontecem noites culturais em eventos. Todas as crianças estão na escola”, relata com orgulho.