6° Jornada de Agroecologia termina com carta de reivindicações

Solange Engelmann,
de Cascavel (PR)

Durante Ato Público, realizado na 6ª Jornada de Agroecologia, em Cascavel, os 5.000 participantes do encontro entregaram ao governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB) e outras autoridades, uma carta com propostas de políticas públicas para a ampliação da agroecologia na agricultura brasileira camponesa.

O documento cobra do governo estadual e federal a efetivação de um projeto estruturante para a agroecologia e propõe mudanças em torno da gestão democrática e das políticas públicas, tecnologia de produção agroecológica, transgênicos, agrotóxicos, educação do campo e culturas camponesas tradicionais, recursos naturais, crédito, infra-esturura rural, benefíciamento, agroindústrialização e comercialização e energia.

O membro da coordenação da Jornada de Agroecologia e integrante da Via Campesina, Roberto Baggio explica que os camponeses querem que o estado brasileiro a organize políticas públicas que fomente a agricultura camponesa e agroecológica. Porém, reafirmou que a consolidação da agroecologia só será possível com a realização da reforma agrária e um amplo processo de educação do campo. “O saber deve estar no controle da maioria da população, porque sem o conhecimento não há povo organizado”, afirma.

Baggio também, ressaltou que o propósito das Jornadas de Agroecologia é entender o projeto da burguesia para a agricultura e organizar os camponeses na resistência a está ofensiva. “A agricultura camponesa é um legado de conhecimento acumulado há vários séculos, mas as empresas transnacionais querem destruir isso. Por isso, temos que combater o projeto do agronegócio”, declara.

O Governador Requião criticou a dominação da agricultura e da alimentação pelo mercado, “que não leva as pessoas em conta, não tem nenhuma visão de solidariedade, e só visa o lucro”. Segundo ele, não é mais possível criar modelos de desenvolvimentos como o dos Estados Unidos e Japão, por isso o Brasil necessita de modelo de desenvolvimento alternativo. “Queremos uma agricultura para produzir comida sim, mas para nós basicamente, trabalhando livre das multinacionais”, ressalta.

Ele também denunciou o projeto do biodisel assinado pelo governo federal com os EUA, que em sua opinião, vai servir, apenas para aumentar a voracidade dos veículos e máquinas do primeiro mundo, plantado aqui para a manutenção do padrão de desenvolvimento deles, sem deixar nada para o desenvolvimento dos brasileiros que produzem a matéria-prima.

O Secretário de Agricultura do Paraná, Valter Bianchini, que também participou do ato, reafirmou o compromisso do governo do Estado com os camponeses, na construção de um modelo de produção sustentável. “Temos que construir um modelo de tecnologias que viabilize a agroecologia porque acreditamos que a agricultura do futuro só é possível sem a presença dos oligopólios”, garante.

Syngenta

Durante seu discurso, Requião também falou sobre o campo de experimento da Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste, que está sendo desocupada pelas 70 famílias da Via Campesina acampadas na área, devido sucessivas medidas de reintegração de posses concedidas pela justiça paranaense a transnacional e a anulação do decreto de desapropriação assinado pelo, então governador.

Para Requião, se a Syngenta fizesse na Suíça, país sede da empresa ue proíbe o plantio de transgênicos, o que está fazendo dentro da zona de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçú, seus diretores já estariam todos na cadeia.

A 6ª Jornada de Agroeocologia aproveitou a ocasião para homenagear o bispo Dom Ladislau Biernaski, com o título de Cidadão Benemêrico dos Camponeses do Paraná, pelo seu compromisso com a causa dos pobres e excluídos.

Também participaram do ato o Reitor da Universidade do Oeste do Paraná, Alcebíades Luiz Orlando; Diretor da Companhia Nacional de Abastecimento, Sílvio Porto; Prefeito de Cascavel, Lísias de Araújo Tomé; Superintendente Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Celso Lisboa de Lacerda, além de deputados estaduais e secretários de Estado, entre outros.