Sem Terra mantêm ocupação em projeto em Sergipe
Dois trabalhadores rurais foram presos depois da mudança das 450 famílias Sem Terra para a rodovia estadual que atravessa área do projeto empresarial de monocultura Platô de Neópolis. A mudança aconteceu na última sexta-feira, dia 14, no município de Neópolis. A rodovia liga os municípios Japoatã e Neópolis.
O projeto foi idealizado nos anos 90 pelo ex-governador João Alves Filho (DEM) e previa a irrigação de áreas para a produção de frutas em larga escala para exportação em iniciativas empresariais.
A ocupação da área do projeto, realizada quatro anos atrás, denuncia que a iniciativa está parada e não contribuiu para melhorar as condições de vida dos trabalhadores rurais e a Reforma Agrária está parada no estado.
“Existem lotes que já passaram por oito empresas diferentes. Metade das terras estão em completo abandono e a produção dos demais lotes fugiram a idéia inicial do projeto, que era de fruticultora, plantando-se apenas cana-de-açúcar”, explica Manoel Alves Farias, integrante da direção estadual do MST.
O acampamento foi montado quatro anos atrás na área e as famílias estavam produzindo alimentos para o mercado local. A saída dos Sem Terra aconteceu com a reintegração de posse expedida pelo Fórum da Comarca de Neópolis e negociação com o governo do estadual, na terça-feira (11/9).
“A retirada é para que se discuta com o governo do Estado um novo projeto, com investimentos federal e estadual, já que é uma área pública e está abandonada. Vamos permanecer no local e garantir o assentamento das famílias”, afirma Farias.
Foram desapropriados 10,5 mil hectares, com 7,3 mil de irrigação, e gastos mais de 200 milhões de reais para o projeto. Para os trabalhadores rurais, a promessa era a criação de 25 mil empregos diretos e indiretos.
“A maioria das empresas beneficiada era de fora do estado, sem nenhuma ligação ou experiência na área agropecuária. Fizeram empréstimos no Banco do Estado de Sergipe, Banco do Nordeste do Brasil e Banco do Brasil. O resultado é que grande parte dos empresários, após o empréstimo, abandonou o projeto”, explica Manoel Alves Farias, integrante da direção estadual do MST.
Com isso, não foram criados os empregos nem foi encaminhado o assentamento das famílias da região. Cerca de 14.000 famílias do MST estão acampadas. No ano passado, apenas 500 famílias entraram em projetos de reforma agrária.
O Platô de Neópolis emprega apenas 400 trabalhadores e, 80% dos pequenos proprietários que foram desapropriados, continuam sem receber indenização. “O atual governo do estado [referência ao governador Marcelo Deda, do PT], que se elegeu para fazer mudanças, não pode admitir a continuidade de um projeto de exclusão na região”, acredita o coordenador do Pólo Sindical do Baixo São Francisco, José Antônio dos Santos.
Na quarta-feira, os trabalhadores rurais impediram que os empresários iniciassem o plantio de cana-de-açúcar na área e destruíssem a produção de alimentos já plantada por eles. Em ato no acampamento, os sem terra receberam a solidariedade de padres das paróquias da região e do bispo da Diocese de Propriá, dom Mario Rino.
Houve uma visita de deputados estaduais, inclusive integrantes da Comissão de Agricultura, que se comprometeram em fazer uma audiência pública na Assembléia para cobrar o governo do Estado sobre o assentamento das famílias.