Etanol eleva preço de grãos, alerta FAO
A alta nos preços de grãos, principalmente o trigo, está provocando tensões sociais e até violência nos países mais pobres. O alerta é da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que aponta o etanol como um dos responsáveis pela inflação. Em relatório publicado na sexta-feira, dia 5, a entidade destaca que o trigo atingiu em setembro preços recordes. Para os países importadores de alimentos, a conta com a compra de produtos agrícolas já aumentou 14% neste ano em relação a 2006. No total, os países em desenvolvimento vão gastar o valor recorde de US$ 52 bilhões na importação de cereais neste ano.
A alta no trigo estaria sendo provocada por uma maior demanda mundial, baixos níveis de estoques e oferta e produção mais reduzidas. Aliado ao custo do transporte diante do aumento dos preços do petróleo, a conseqüência é uma inflação no preço do pão em muitos países.
A FAO adverte que a previsão é de que os estoques de cereais continuem baixos nos próximos anos. “Essa é uma situação preocupante”, afirmou Paul Racionzer, do sistema de alerta da FAO. O estoques estariam nos níveis mais baixos nos últimos 25 anos, chegando a 143 milhões de toneladas.
Uma das explicação é a safra decepcionante na Europa. A produção foi a pior desde 2003. Romênia e Bulgária, tradicionais produtores, tiveram uma redução na safra de trigo de 35% e 45%. Para tentar frear a inflação, os europeus liberaram a importação de trigo.
Nos países andinos, os altos preços do trigo estão provocando inflação do valor do pão. Vários governos já estão autorizando medidas para tentar controlar o preço. Na Bolívia, o exército está operando fábricas para produzir pão. No Peru, o preço do trigo aumentou em 50% desde o início do ano. Na Ásia e no Oriente Médio, a FAO lembra que protestos e manifestações violentas ocorreram após o aumento dos preços. A situação, porém, poderá piorar nos próximos meses.
A FAO não deixa de apontar o etanol como parte responsável pela alta nos preços dos alimentos. Segundo a entidade, o consumo de cereais no mundo aumentará em 2%, atingindo 2,1 bilhões de toneladas. O etanol seria responsável por 75% desse crescimento. Só o uso industrial desses cereais deve aumentar 9% entre 2006 e 2007, em grande parte para ser transformado em etanol. Já a alta no consumo de alimentos deve ser de 1% e uma inflação nos preços deve até provocar uma queda no consumo em alguns países.
Fonte: Jamil Chade, do jornal O Estado de S. Paulo, 6-10-2007