Em Pernambuco, MST inicia Marcha contra a transposição do São Francisco
Essa semana, trabalhadores rurais Sem Terra acampados e assentados do estado de Pernambuco iniciam marchas em várias colunas em direção aos canteiros de obras dos canais Leste e Norte do projeto de Transposição do Rio São Francisco, nos municípios de Floresta e Cabrobó, sertão de Pernambuco.
As marchas têm como objetivo paralisar as obras por tempo indeterminado, em apoio as 2.500 famílias acampadas no projeto Pontal Sul, em Petrolina, que estão sofrendo ameaças de despejos pela Policia Federal e Militar, por ordem da Justiça federal, a pedido da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). As mobilizações são também em protesto contra atos de descriminação e preconceito que Sem Terra de todo o estado vem sofrendo por parte do diretor de desenvolvimento da Codevasf, Clementino Coelho.
As 2.500 famílias Sem Terra que ocupam o Projeto Pontal Sul, um projeto de irrigação que prevê a privatização das terras e da água, se preparam para continuar resistindo a qualquer ameaça de despejos. O MST quer que a área do Projeto Pontal Sul seja transformada em um assentamento de 2.000 famílias e a ampliação da capacidade de abastecimento do canal Pontal Sul para que atinja todas as famílias de agricultores assentadas na região.
As famílias Sem Terra ocuparam os projetos Pontal Sul e Salitre, em Juazeiro, na Bahia, onde resistem 800 famílias acampadas, principalmente por não concordarem com o modelo do desenvolvimento que a Codevasf quer implantar nas terras destes projetos. É um modelo que mantém a lógica colonialista de colocar nossas terras a serviço dos interesses do mercado internacional.
No Pontal Sul, o governo federal, através da Codevasf já investiu R$ 250 milhões apenas para implantar 35 km de canal, durante 15 anos. Esse ano já foi solicitado do orçamento da União mais R$ 120 milhões, incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), apenas para a conclusão das obras de infra-estrutura, e prevê gastar mais de R$ 540 milhões em investimentos de Parcerias Público-Privadas (PPP).
Os investimentos têm como prioridade atender aos interesses de 30 empresas agropecuárias de porte internacional, mantendo os trabalhadores integrados a lógica da grande indústria capitalista. Os mesmos valores foram investidos no Projeto Salitre sendo que hoje a Codevasf contratou uma empreiteira, a Queiroz Galvão, para elaborar um estudo de viabilidade para o Projeto Salitre dentro da idéia da PPP.
Contra este projeto, que levará ao aceleramento de bolsões de miséria nas cidades de Petrolina, Juazeiros e outras cidades do Sertão, além da entrega de nossas riquezas agroindústrias estrangeiras, o MST propõe que as infra-estruturas coletivas construída pela Codevasf e os 35 mil hectares de terras, sejam repassadas ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para um amplo projeto de Reforma Agrária. Como isso, 2.000 famílias seriam assentadas e poderiam beneficiar a diversificação da produção, bem como, adotar formas de produções menos agressivas ao homem e ao meio ambiente, com a produção de alimentos mais saudáveis para quem consome e para quem produz. Além disso, o Incra pode desapropriar outras terras ao longo do canal, aproveitando todo o potencial do canal e multiplicar o número de famílias assentadas na região.
O Movimento também reivindica do governo do Estado e do governo federal um outro canal de negociação, onde a Codevasf não seja a principal interlocutora. Isso porque a empresa não cumpriu as negociações anteriormente acertadas, expõe discriminação e preconceito contra trabalhadores Sem Terra e não aceita outras propostas de desenvolvimento para a região.