Militante da Via Campesina é executado por milícia no Paraná
Durante um ataque de uma milícia ao acampamento do campo de experimento da multinacional Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste, às 13h30 de hoje, dia 21, o militante da Via Campesina, Valmir Mota, foi executado à queima roupa com dois tiros no peito. Outros seis trabalhadores ficaram gravemente feridos. A milícia contava com cerca de 40 pistoleiros.
Os feridos Gentil Couto Viera, Jonas Gomes de Queiroz, Domingos Barretos, Izabel Nascimento de Souza e Hudson Cardin, foram encaminhados para os hospitais da região. Izabel está em coma e sua vida corre risco. Há suspeitas de que um dos pistoleiros tenha sido morto.
A área da Syngenta foi reocupada na manhã de hoje por cerca 150 trabalhadores da Via Campesina. O campo de experimento da empresa havia sido ocupado pelos camponeses em março de 2006, para denunciar o cultivo ilegal de reprodução de sementes transgênicas de soja e milho.
A ocupação tornou os crimes da transnacional conhecidos em todo o mundo. Após dezesseis meses de resistência, no dia 18 de julho deste ano, as 70 famílias desocuparam a área, se deslocando para um local provisório no assentamento Olga Benário, também em Santa Tereza do Oeste.
Na reocupação os trabalhadores rurais soltaram fogos de artifício e os seguranças, que estavam na fazenda abandonaram o local. Por volta da 13h30 um micro ônibus parou em frente ao portão de entrada. Uma milícia armada com aproximadamente 40 pistoleiros fortemente armados desceu atirando em direção às pessoas que se encontravam no local.
Arrombaram o portão, executaram o militante Valmir Mota com dois tiros, balearam outros cinco agricultores e espancaram Isabel do Nascimento de Souza, que se encontra hospitalizada e gravemente ferida.
A Syngenta contratava serviços de segurança que atuavam de forma irregular na região, articulados com a Sociedade Rural da Região Oeste (SRO) e o Movimento dos Produtores Rurais (MPR). Uma das diretoras da empresa de segurança NF, foi presa e o proprietário fugiu durante uma operação da Polícia Federal no mês de outubro, quando foram apreendidas munições e armas ilegais.
Há indícios de que a empresa funciona como fachada e que na hora das operações são contratados mais seguranças de forma ilegal, formando uma milícia armada que atua praticando despejos violentos e ataques a acampamentos.
Na última quinta-feira, dia 18, a denúncia da atuação de milícias armadas ligadas a SRO e ao MPR e Syngenta na região Oeste foi reforçada durante uma audiência pública, com a coordenação da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal dos Deputados (CDHM), em Curitiba.
A Via Campesina cobra da Justiça a apuração do ataque contra os trabalhadores do acampamento, que juntamente com os trabalhadores do assentamento Olga Benário, continuam lutando para transformar a área num Centro de Agroecologia e de reprodução de sementes crioulas para a agricultura familiar e para a Reforma Agrária.
Os moradores do assentamento Olga Benário, que faz divisa com a área de experimento da Syngenta, também são contrários aos experimentos transgênicos no local. Isso porque o a produção transgênica vai contaminar a produção de sementes crioulas do assentamento, e trazer prejuízos para a alimentação, a saúde e o meio ambiente.