Sem Terra bloqueiam estrada no Pontal Sul, em Pernambuco
Em protesto contra a interrupção do fornecimento de água, as 2.500 famílias Sem Terra que estão acampadas no Pontal Sul, no município de Petrolina, sertão de Pernambuco, bloquearam hoje a BR 428, em frente ao acampamento. O bloqueio deve continuar até que a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) retorne o abastecimento de água aos Sem Terra.
Durante o bloqueio da estrada, os trabalhadores Sem Terra reafirmaram sua disposição de seguir resistindo a qualquer ameaça de despejo. Caso o despejo aconteça, os trabalhadores rurais assumiram o compromisso com a população do sertão de reocupar a área quantas vezes forem necessárias até que a terra seja devolvida à população. A situação é cada vez mais tensa no acampamento Pontal Sul.
Na última sexta-feira, dia 19, policiais federais e militares de Pernambuco e Bahia foram até o acampamento ameaçar as famílias Sem Terra de despejo. Apesar do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Pernambuco estar em processo de negociação com os governos estadual e federal para desapropriação da área, os policiais disseram que as famílias teriam 48 horas para sair da área, ou seriam despejadas à força.
Além de resistirem contra o mandado de reintegração de posse, as famílias lutam contra atitudes preconceituosas e discriminatórias de diretores da Codevasf. No último final de semana a Codevasf, mais uma vez, suspendeu o fornecimento de água para as famílias acampadas. Desde a ocupação da área, em abril deste ano, a direção da Companhia desligou as bombas que abastecem o canal para pressionar as familiais acampadas a deixarem a área. Até hoje o canal continua sem funcionar, prejudicando centenas de famílias de pequenos agricultores.
Tanto o Ministério Público como o governo federal consideram que, independente da disputa pela terra, o fornecimento de água para o consumo humano é uma obrigação humanitária, portanto, negar água para as famílias Sem Terra é uma violação dos direitos humanos. Apesar da argumentação da Codevasf e que “na guerra vele tudo”, a Companhia foi obrigada a fornecer água a todas as familiais acampadas através de carro-pipa. Nesse final de semana a Companhia voltou a violar os direitos básicos da familiais Sem Terra acampadas no Pontal, cortando mais uma vez o fornecimento de água do acampamento.
Apesar da ameaças da polícia e da Codevasf, as negociações para a desapropriação da área do Pontal Sul continuam. Amanhã, dia 24, acontecerá mais uma reunião entre governo federal, Incra e Codevasf para negociar com a última o repasse das terras e da infra-estrutura do Projeto Pontal Sul para o Incra. A reunião vai acontecer às 10 horas, no Ministério da Integração Nacional, com a presença do governador Eduardo Campos (PSB) e dos superintendentes regionais do Incra em Petrolina e Recife.
A reunião é marcada de muita expectativa, tanto em Pernambuco, como na Bahia. Caso não haja acordos nessa reunião o MST reafirma a convocação de marchas por todo estado de Pernambuco, que seguiram em direção aos canteiros de obras dos dois canais da transposição do Rio São Francisco.