Produção agroecológica de assentamento abastece entidades sociais

A produção agroecológica dos assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), estão abastecendo entidades filantrópicas e carentes, que atendem populações de baixa renda. Um exemplo disso é a experiência de 32 famílias que moram no assentamento Contestado, localizado no município da Lapa, a 70 km de Curitiba, e entregam alimentos para entidades de Campo Largo e Lapa, na Região Metropolitana de Curitiba, Paraná.

Os trabalhadores doam a cada mês cerca de 7.000 quilos de alimentos, entre verduras, legumes, frutas, pão, geléias, feijão, arroz, mandioca, batata doce, milho verde, entre outros, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) do governo federal.

Todas as terças-feiras, um veículo do Provopar de Campo Largo, recolhe mais de 30 tipos de produtos que são distribuídos à Fundação João XXIII, Lar Sagrada Família, Associação dos Deficientes Físicos, Ação Social Santa Cecília, Associação Bibi Meireles, Lar Escola Odila Portugal Castagnoli, de Campo Largo e o Instituto Contestado de Agroecologia, na Lapa.

A coordenadora do Lar Escola Odila Portugal Castagnoli, Maria de Lourdes Norberto, conta que a iniciativa dos assentados está sendo fundamental para manter a entidade. “Recebemos apenas R$ 17,00 por criança, por mês, então a ajuda do assentamento é muito bem vinda. Estamos torcendo para que o projeto continue, porque se não tivéssemos esse tipo de doações não tinha como alimentar as crianças”, afirma. O Lar Escola recebe doações do assentamento Contestado há nove meses. A entidade atende cerca de 70 crianças de baixa renda, de três meses a cinco anos de idade, oferecendo quatro refeições por dia.

As entidades recebem alimentos produzidos de forma agroecológica, respeitando o meio ambiente sem o uso de agrotóxicos. No assentamento, 28 famílias possuem certificação agroecológica da Rede Ecovida de Certificação Participativa. O assentamento Contestado conta com 108 famílias assentadas e foi criado em 1999.

Com a participação no PAA, os assentados estão fortalecendo o grupo agroecológico de 35 famílias, criado no assentamento, com o nome de Terra Livre, profissionalizando os agricultores na produção de verduras e legumes, e obtendo um aumento significativo na renda. “Ao mesmo tempo que estamos doando para entidades que necessitam de uma diversidade de alimentos, foi importante, porque ajudou as pessoas a acreditar no seu potencial de produção e organização”, destaca o assentado e coordenador do grupo agroecológico, Paulo Rodrigues Brizola.

Atualmente 70% da renda dos agricultores vem do PAA. Com o projeto os trabalhadores obtêm uma média mensal de R$ 280, por família. O assentado Celso José Chagas, comemora a parceira com a Conab. “Deu uma segurança a mais, porque tudo que nós vamos produzindo já tem uma venda garantida na cidade, e é um orgulho saber que a produção vai direto para entidades e escolas”, comemora.

Além do programa do governo federal, as famílias produzem para o auto
sustento e comercialização no mercado local. Segundo Brizola, estão sendo discutidas outras alternativas para a venda da produção, em feiras livres e cestas direto ao consumidor.

O segundo ano do programa está terminando neste mês de novembro. Os trabalhadores já apresentaram uma proposta de renovação, que está sendo analisada pela Conab. A participação do assentamento Contestado no PAA, começou em 2005, com o envolvimento de 15 famílias. No ano seguinte, o número foi ampliado para 32 famílias, e se for aprovado, em 2008, 34 famílias estarão participando do programa.

Avaliação

Para avaliar os dois anos de funcionamento do projeto, os assentados que participam do programa e representantes de entidades beneficiadas se reuniram na quarta-feira, dia 14, no assentamento Contestado. O objetivo é aproximar agricultores e entidades, que vem sendo beneficiadas e discutir a continuidade da parceria.