“Encontro com Saci” valoriza a cultura popular em Ribeirão Preto
Reila Miranda,
de São Paulo
O MST realizou no Centro de Formação “Dom Hélder Câmara”, em Ribeirão Preto, SP, o primeiro “Encontro com o Saci: o guardião das matas e do saber popular”, entre os dias 19 e 25 de novembro. A idéia era reforçar a identidade camponesa por meio da valorização da cultura popular.
“O seminário trouxe o elemento Saci para fazer um diálogo da cultura com outras áreas. Não há como falar de Saci sem falar de meio ambiente, biodiversidade, saber popular. Não apenas no inconsciente, mas vivo no consciente do camponês. O Saci vive!” explica Guê de Oliveira, do setor de cultura.
Sidnei Niederle, do Centro de Formação, afirma que o encontro foi de formação e conscientização com temas como água, biodiversidade, preservação da fauna e flora, cultura popular. “Para mim, não houve um ‘resgate’. Quando penso no termo me vem a noção de trazer de volta algo que já não faz parte da nossa realidade, algo que não está mais presente; e isso não ocorre no meio do nosso povo, pelo contrário, a cultura popular e a valorização do saber popular estão muito presentes”, diz.
O encontro foi estruturado em três fases. A primeira delas foi um seminário de formação que teve como finalidade refletir a formação da cultura brasileira. Os 150 participantes – entre acampados, assentados, estudantes, agricultores e convidados – puderam, além de debater, refletir sobre temas estruturantes da sociedade: os amplos significados da cultura popular para os povos, a importância do brincar; da saúde preventiva; da preservação da biodiversidade, e outros. Em seguida, as oficinas. Hora do fazer, do criar, do colorir. E por fim, a hora de festejar e celebrar debaixo de uma figueira de aproximadamente 400 anos a “Festa do Saci”.
O avanço do agronegócio na região de Ribeirão Preto têm destruído a fauna e flora locais, e o encontro teve também a importância de que as famílias da região se assumam também como guardiões e defensores destes espaços.
O saci-pererê
O Saci é um personagem bastante conhecido da mitologia brasileira, que teve sua origem presumida entre os indígenas da região de Missões, no Sul do país. Inicialmente retratado como um endiabrado, é uma criança indígena, com uma perna e com a diferença de possuir um rabo.
Na região Norte do Brasil, a mitologia africana o transformou em um negrinho que perdeu a perna lutando capoeira, imagem que prevalece nos dias de hoje. Herdou também a cultura africana do pito, uma espécie de cachimbo, e da mitologia européia, herdou o píleo, o seu gorrinho vermelho.
Considerado uma figura brincalhona, que diverte-se com os animais e pessoas, criando dificuldades domésticas, ou assustando viajantes noturnos com seus assobios, o mito existe pelo menos desde o fim do século XVIII.
Como suas qualidades eram as da farmacopéia, também era atribuído a ele o domínio das matas, onde guardava estas ervas sagradas, e costumava confundir as pessoas que não pediam a ele a autorização para a coleta destas ervas.
Resistência ao Halloween
Em 2005 foi instituído no Brasil o Dia do Saci (Lei nº. 11.669). A idéia é fortalecer e valorizar a cultura popular brasileira. O Dia do Saci é comemorado em 31 de outubro, em contraposição ao “Halloween”, ou Dia das Bruxas, que teve sua origem na Irlanda, mas foi massificado pela indústria cultural norte-americana.