Em Rondônia, trabalhadores marcham contra privatização do Madeira
No dia do leilão da UHE Santo Antônio, a primeira hidrelétrica do Complexo Rio Madeira, cerca de 1.000 integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Via Campesina, entidades urbanas e da Bolívia fazem uma grande marcha pelas ruas de Porto Velho. O protesto é contra a venda da concessão do aproveitamento energético da hidrelétrica que acontece hoje, dia 10, na Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a portas fechadas.
A marcha vai seguir pela Avenida Carlos Gomes, passando pelo Palácio do governo, e vai até a Praça Jonas das Pedrosas, na Avenida 7 de setembro, centro comercial de Porto Velho, onde acontece um grande ato político. Atos como esse acontecem em vários estados do país. Em Brasília, cerca de 300 integrantes da Via Campesina ocuparam a ANEEL para impedir a realização do leilão.
Os manifestantes estão concentrados na Igreja Nossa Senhora das Graças, onde cerca de 100 militantes da Via Campesina fizeram um estudo sobre o modelo energético brasileiro e os impactos das grandes hidrelétricas nos últimos dois dias. Ontem, estes militantes saíram nas ruas para conversar com a população. “O povo estava alheio ao debate da energia. Agora, estamos percebendo a adesão e a solidariedade dos trabalhadores contra a privatização dos rios” afirmou Josivaldo Oliveira, da coordenação do MAB.
Na disputa pela hidrelétrica de Santo Antônio, estão três consórcios formados por corporações transnacionais, como Votorantim, Suez Energy e Endesa. Segundo cálculos do movimento, baseado no preço da energia no mercado internacional, os donos das barragens de Santo Antônio e Jirau vão faturar em média R$ 525.000 mil por hora, com a venda da energia proveniente dessas barragens. O movimento calcula ainda que mais de 10 mil famílias sejam atingidas pelo conjunto das obras do Complexo.
Para impedir que o Rio Madeira seja vendido e a Amazônia saqueada, o Movimento dos Atingidos por Barragens, em parceria com várias entidades e movimentos sociais, lança a campanha “levante contra a venda do Rio Madeira. Em defesa das comunidades atingidas e da Amazônia”. Materiais como cartazes, folders e panfletos foram feitos para servir de subsídio no debate com a sociedade.
Entenda o que é o Complexo Rio Madeira
O que é o “Complexo do Rio Madeira” – O plano prevê a construção das hidrelétricas de Santo Antônio, Jirau, Guajará e Cachoera Esperança; a construção de eclusas, hidrovias e de uma grande linha de transmissão de energia que vai de Porto Velho até São Paulo.
Os custos totais do Complexo do Rio Madeira – Estima-se que seja necessário R$ 43 bilhões. Somente as duas hidrelétricas (Santo Antônio e Jirau) mais as eclusas custarão R$ 28 bilhões. Rondônia possui uma população em torno de 1,5 milhões de pessoas. Só os R$ 28 bilhões destinados a construção das duas hidrelétricas equivalem a um investimento de R$ 18.500,00 por habitante de Rondônia.
Área inundada – Serão inundados mais de 500 quilômetros quadrados de terras (mais de 50 mil hectares)
Número de atingidos – As hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau vão afetar mais de 50 povoados (comunidades) e atingirão de forma direta cerca de 5.000 famílias.
Capacidade de geração de energia – Somente as hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau terão uma potência de 6.500 MWh. Algo em torno de 4.000 MWh médios de energia firme.
Faturamento com a venda da energia gerada nas duas primeiras hidrelétricas – Os donos das barragens vão faturar em média: • Por Hora: mais de 500 mil reais • Por dia: mais de 8,5 milhões de reais • Por ano: mais de 03 bilhões de reais.