Cana-de-açucar disputa espaço na Amazônia

De O Estado de S. Paulo

Cana na Amazônia? Sim, e em grande quantidade. A região já produz 20 milhões de toneladas de cana por ano, adverte o Centro de Pesquisa e Monitoramento da Embrapa. A indústria sucroalcooleira, que assumiu a tarefa mundial de curar o planeta do “vício do petróleo” e avança no rumo norte, ameaçando estimular o desmatamento até mesmo no Amazonas, será freada. Por causa disso, dois ministros, Reinhold Stephanes, da Agricultura, e Marina Silva, do Meio Ambiente, já bateram boca. Em outubro, ela venceu o embate.

O zoneamento ambiental da cana-de-açúcar vai proibir o cultivo da planta na Região Amazônica e no Pantanal. O trabalho de zoneamento deve ficar pronto em junho do ano que vem. O veto foi uma decisão pragmática do governo. Ao mesmo tempo em que o aumento da produção de etanol é um dos projetos mais caros ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ameaça de que o desmatamento volte a crescer assusta quem tenta vender a idéia do Brasil como um país ecologicamente correto.

Há algum tempo, aliás, Lula já tentava desestimular o plantio de cana na região. Chegou a dizer: “Os portugueses eram tão inteligentes que trouxeram a cana para cá há 470 anos e não foram para a Amazônia, porque sabiam que o solo e o tipo de umidade dali não permitem que se produza cana-de-açúcar como se produz em São Paulo ou no Centro-Oeste.” Mas o desestímulo presidencial não desencorajou os plantadores. A cana ainda é forte no norte de Mato Grosso, sul do Pará e Maranhão, além de ter presença relevante no Acre e em Rondônia. Para aumentar a polêmica, a Usina Jayoro tem alcançado alta produtividade, a apenas 100 quilômetros de Manaus. Suas terras ocupam 59 mil hectares, entre duas áreas de proteção: a Estação Ecológica de Anavilhanas e a Terra Indígena Uaimiri-Atroari. O cultivo de 33 variedades de cana, das mais de 100 pesquisadas, se estende por 4,5 mil hectares. O álcool atende à demanda regional. O açúcar é todo comprado pela Coca-Cola.

No Acre, a Álcool Verde pretendia produzir 45 milhões de litros do combustível a partir de maio do ano que vem. O empreendimento, que custou R$ 60 milhões, surgiu após a falência de um projeto governamental que originou, nos anos 80, a Alcobrás. Parte de seus 11,5 mil hectares está ocupada por assentamentos, mas os agricultores viraram parceiros e produzem a cana processada pela usina.