Fazendeiros fazem guerra contra indígenas em Roraima
Desde sua homologação, em 15/3, o decreto de 2005 que estabelece a demarcação da área da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, tem causado a ira dos produtores de arroz da região, que iniciaram uma guerra contra as comunidades indígenas que nela habitam. (A foto ao lado mostra a celebração da homologação).
O governo federal prometeu iniciar até a próxima semana a operação de retirada dos arrozeiros da reserva. Mesmo com as intimidações e manifestações, comandadas por produtores e políticos, o governo promete não recuar e cumprir a lei.
O decreto estabelece que a área de 1,74 milhão de hectares é, por direito, pertencente aos 15 mil índios das etnias Macuxi, Taurepang, Wapixana e Ingarikó. Há cerca de uma década, os arrozeiros invadiram ilegalmente o território, que já era considerado área indígena. O grupo, no entanto, tem fortes laços com políticos do estado. Um exemplo disso é a ação do governador de Roraima, Ottomar Pinto (PTB), que decretou luto oficial de sete dias no estado devido a homologação de Raposa Serra do Sol, estimulando o clima tenso no estado. No decreto, Ottomar questiona a Portaria 534, do Ministério da Justiça, que consolidou a reserva em área contínua, diferente do que pregavam os latifundiários locais.
Os arrozeiros prometem novas manifestações, como as ações de violência que no começo desta semana resultaram na destruição de uma ponte que dá acesso à reserva. O Ministério da Justiça aponta que não há mais como negociar com os fazendeiros e que a Polícia Federal (PF) fará a retirada dos não-índios da reserva. O maior produtor de arroz da área, Paulo César Quartiero, que preside a associação dos arrozeiros, promete sair da reserva somente com ordem da justiça. Ele já foi preso nessa semana por liderar os protestos na região.
O produtor aponta que devem chegar à Raposa Serra do Sol mais 300 manifestantes para impedir a ação da PF. O CIR (Conselho Indígena de Roraima) relata que muitos homens estão armados na região e nesta quarta-feira (02) duas pessoas, ainda não identificadas, ficaram como reféns dos manifestantes por cerca de duas horas. O CIR acredita também que com a interdição de uma ponte sobre a localidade de Igarapé Grande, que foi serrada com moto-serra, todas as vias terrestres de acesso à reserva estão interceptadas.