Jaime Amorim contesta filme sobre o movimento
Por Cássia Bechara
A pré-estréia do filme “O Tempo e o Lugar”, de Eduardo Escorel no cinema da Fundação Joaquim Nabuco no Recife deu lugar a um debate que o filme não consegue contemplar, na terça-feira (27/05).
Estiveram presentes Escorel e o personagem principal Genivaldo, ex-militante do MST e do PT (organizações das quais foi expulso) e dentre a platéia pessoas que conheceram e conviveram com ele, como Jaime Amorim, da coordenação nacional do MST, que é citado várias vezes no filme.
Certamente, Escorel e Genivado já esperavam críticas “pró-MST”, como o diretor tem colocado, entretanto, provavelmente não esperava a presença de pessoas que pudessem contestar a versão de Genivaldo e sua “memória seletiva”, como frisou Escorel, com a legitimidade de quem esteve com ele em suas vivências.
O incômodo na platéia era geral. As primeiras perguntas giravam em torno da questão da opção política do filme, da ausência de qualquer contestação ou mesmo uma pesquisa em relação às informações dadas por Genivaldo.
Foram levantadas dúvidas sobre o foco do filme, que seria voltado à atuação política dele no MST e da responsabilidade do diretor pela opção de usar um meio formador de opinião para legitimar a posição da classe dominante de criminalizar os movimentos sociais.
O ponto alto do debate foi as falas de Rubneuza Leandro, da coordenação estadual do MST em Pernambuco, e Jaime Amorim.
Rubneuza falou primeiro. Cumprimentou Genivaldo e passou a relembrá-lo de alguns fatos que ele descreve erroneamente no filme. Nunca houve qualquer treinamento com o Sendero Luminoso.
Ambos estiveram juntos nesse primeiro curso de formação, e o que houve foi uma discussão no curso sobre artigo publicado na imprensa com especulações falsas sobre treinamento de guerrilha dos trabalhadores Sem Terra com a organização peruana.
Além disso, nunca houve nenhuma apologia ao ateísmo, mas sim estudo sobre materialismo dialético e sua relação com a existência ou não de Deus.
Jaime Amorim afirmou que “não sabia se ficava contente ou triste com o filme, até porque tinha vindo para assistir a um filme e acabou sendo um dos personagens”. Em sua opinião, o filme peca em dois pontos principais: a falta de contextualização do período político e da luta pela terra e a ausência de análise da saída de Genivaldo do MST e do PT.
Jaime terminou sua exposição dando parabéns a Genivaldo pelo filme, mas fez um alerta para que ele tenha cuidado para não terminar aplaudido pelos fazendeiros e chacoteado pela esquerda. Quando Jaime terminou de falar, Genivaldo simplesmente disse que não tinha mais nada a dizer. E não disse.
O debate durou mais de uma hora e a única manifestação a favor do filme foi de um latifundiário do Ceará, que já teve sua fazenda ocupada e que parabenizou Escorel e Genivaldo por “mostrar ao Brasil quem de são os Sem Terra de verdade, esse bando de baderneiros”.