Polícia reprime manifestação contra barragem da Votorantim em SP
Cerca de 600 trabalhadores rurais da Via Campesina e integrantes da Assembléia Popular ocuparam prédio da Votorantim, no centro de São Paulo, para denunciar os impactos ambientais da construção da barragem de Tijuco Alto, no Rio Ribeira de Iguape, que corta os estados de São Paulo e Paraná.
A Polícia Militar invadiu o prédio com 50 soldados e reprimiu com violência a manifestação pacífica, com bombas de gás de pimenta e tiros. Foram presos cinco manifestantes da Via Campesina e Assembléia Popular.
Assista ao vídeo com o registro da violência policial
O Ibama reprovou duas vezes os Estudos de Impacto Ambiental (EIA/Rima) apresentados pela companhia. A empresa enviou um novo relatório em 2005 e ainda não recebeu parecer conclusivo do Ibama. Ainda existem duas pendências: uma referente ao dispositivo legal que permite a inundação de cavernas (há duas na área a ser alagada), e outra relativa à revalidação do direito de uso dos recursos hídricos do rio Ribeira, a cargo da Agência Nacional de Águas (ANA).
O Relatório de Impacto Ambiental (Rima) do projeto de Tijuco Alto aponta que 51.8 quilômetros quadrados da região serão inundados, sendo que 46% são terras aptas para a agricultura e 35% para pastagem. O Rima afirma ainda que 689 famílias terão suas vidas afetadas pela criação da barragem. Toda a energia produzida por essa hidrelétrica será destinada à CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), pertencente ao grupo Votorantim.
A jornada de lutas da Via Campesina e da Assembléia Popular protesta contra o modelo econômico neoliberal e as ações das empresas transnacionais no campo da energia e da agricultura.
O Vale do Ribeira se destaca por sua grande diversidade ecológica. Seus mais de 2,1 milhões de hectares de florestas equivalem a aproximadamente 21% dos remanescentes de Mata Atlântica existentes no Brasil, transformando-o na maior área contínua desse importante ecossistema em todo o País. Toda essa diversidade está ameaçada pela construção de quatro barragens: Tijuco Alto, Funil, Itaoca e Batatal.
O investimento em auto-geração de energia tem causado preocupação ao povo que vive no Vale do Ribeira. Há 20 anos a empresa tenta implementar a barragem de Tijuco Alto no rio Ribeira de Iguape, que corta os estados de São Paulo e Paraná.
Votorantim: uma história de degradação ambiental e social
O atual modelo econômico quer transformar os alimentos, a energia e todos os recursos naturais em mercadorias para atender aos interesses, ao lucro e à ganância das grandes empresas multinacionais. O grupo Votorantim é uma dessas empresas que atuam em vários setores industriais, apropriando-se da terra, das águas, dos minerais e da biodiversidade, privatizando o que é de todos.
Os lucros extraordinários da empresa provêm do tipo de ação desenvolvida e, em sua prática, explora os recursos públicos nacionais e degrada o meio ambiente.
Por que protestamos contra a Votorantim?
– A Votorantim Metais é responsável pelo despejo de metais pesados como zinco e chumbo no rio São Franscisco, na região de Três Marias/MG. Os níveis de zinco na água estão cinco mil vezes acima do tolerável.
– A Votorantim é uma grande produtora de papel e celulose e responsável por enormes plantações de eucalipto que se transformam em verdadeiros desertos verdes, substituindo a terra que devia ser para produção de alimentos. A Votorantim utiliza 121,2 mil hectares em São Paulo para o monocultivo de eucalipto
– A Votorantim consome cerca de 4% de toda a energia elétrica produzida no país, o que corresponde ao consumo de energia de um estado como Pernambuco, com 8 milhões de habitantes.
– A energia consumida é utilizada na produção de minérios e celulose, em sua grande maioria voltados para a exportação.
– Em barragens que a Votorantim é sócia, tem sido utilizada a prática da fraude ambiental, como no caso da Barragem de Barra Grande (divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina). Para a construção dessa barragem, as empresas fraudaram o relatório de impacto ambiental, escondendo a existência de 5 mil hectares de mata atlântica nativa, que foram destruídos e inundadas.
– A Votorantim Energia possui metade das ações da VBC Energia, principal controladora da CPFL, empresa que distribui energia elétrica no interior de São Paulo.
– A CPFL vende a energia para as famílias por um valor até sete vezes maior do que o preço de custo da energia. Além disso, não divulga o direito à Tarifa Social para quem consome até 220 kwh/mês. Neste caso, a Votorantim explora as famílias mais pobres das cidades.
– Por 20 anos, o Grupo Votorantin tenta implementar a barragem de Tijuco Alto no rio Ribeira de Iguape, que corta os estados de São Paulo e Paraná. Esta é a região mais preservada de Mata Atlântica do Brasil, sendo considerada a Amazônia do Sudeste. A resistência das comunidades locais e das organizações sócio-ambientais tem evitado a concretização do projeto.
– A Votorantim quer fazer barragens no último rio vivo e livre do estado de São Paulo. Quer fazer mais quatro barragens que inundarão uma área de 11 mil hectares. Um dos objetivos da construção da barragem de Tijuco Alto é a ampliação da capacidade de produção e exportação de alumínio na região de Sorocaba (SP).
– Com a alta dos preços dos alimentos, o valor da cesta básica de São Paulo passou a ser considerado o 2ª maior do país, custando R$ 233,92. Um dos fatores que têm contribuído para esse aumento é o domínio das transnacionais no setor agrícola brasileiro. O grupo Votorantim tem grande participação nisso
Por tudo isso, ocupamos o prédio da Votorantim e milhares de pessoas, do campo e da cidade, estão mobilizadas, entre os dias 10 e 13 de junho, contra o avanço das grandes empresas transnacionais, que controlam nossa agricultura, consomem grande parte da nossa energia, degradam o meio ambiente e contribuem para a pobreza do povo brasileiro.
Viva a luta do povo brasileiro!
Via Campesina – Assembléia Popular.