Assentados protestam contra redução da faixa de fronteira

Cerca de 200 agricultores assentados e acampados marcham neste momento rumo à Fazenda Tarumã, em Rosário do Sul, Fronteira Oeste gaúcha. Eles denunciam as práticas ilegais da transnacional de celulose Stora Enso, que mesmo sendo uma empresa estrangeira já adquiriu ilegalmente milhares de hectares na área da Faixa de Fronteira. Também criticam o lobby que a empresa vem fazendo junto aos parlamentos estadual e federal, assim como os respectivos parlamentares apoiadores, para que a Faixa de Fronteira seja reduzida a fim de legalizar a monocultura de eucalipto e pínus na região.

A mesma área da Stora Enso, em Rosário do Sul, já foi ocupada pelas mulheres da Via Campesina em protesto no dia 8 de Março passado.

A atividade também repudia a violência sofrida pelos 1,2 mil manifestantes que protestaram ontem em Porto Alegre e foram duramente reprimidos pela polícia. Em nota, a Via Campesina lembra que “é necessário que se mantenha o direito à liberdade de expressão e de protesto. Os agricultores querem que ao invés da governadora reprimir os movimentos sociais com a Polícia, que invista nos serviços sociais, gere emprego e renda”

Jornada de Luta

A Jornada Nacional de Lutas Contra o Agronegócio e as Transnacionais protesta contra o atual modelo de desenvolvimento adotado no Brasil. Este modelo, baseado no capital estrangeiro e nas transnacionais (empresas estrangeiras), principalmente dos setores de celulose, agronegócio e
energia, tem levado o povo brasileiro ao empobrecimento. O principal malefício deste modelo está representando hoje na dita crise do alimento, que afeta todo o mundo, principalmente os países mais pobres. As transnacionais, que detêm as sementes e controlam a exportação dos alimentos juntamente com os produtores do agronegócio, têm estocado a produção a fim de aumentar o preço dos alimentos no mercado internacional.

No Brasil, apenas quatro transnacionais, a Cargill, ADM, Bunge e Louis Dreyfus exportam 60% do que é produzido no país. No Rio Grande do Sul, ocorre hoje a substituição da produção de alimentos por monoculturas, principalmente a de pínus e eucalipto, voltadas à produção de matéria-prima
para exportação.

Como conseqüência, a comida chega muito cara ao supermercado e à mesa do povo. Pesquisa do DIEESE mostra que o brasileiro gastou 111 horas e 8 minutos (duas semanas e meia) de trabalho no mês de maio somente para comprar a cesta básica. Os agricultores também são duramente afetados, já que as mesmas transnacionais, juntamente com a Syngenta e a Monsanto, controlam as sementes, os adubos e os agrotóxicos. Assim, elas conseguem determinar o preço dos insumos e da produção que será vendida pelo agricultor.

O que os trabalhadores defendem

Os trabalhadores do campo e da cidade defendem um novo modelo de desenvolvimento, baseado no enriquecimento do povo e na construção da soberania alimentar e nacional do Brasil. Para isso, os trabalhadores exigem mais investimentos à agricultura camponesa, reforma agrária ampla
com investimento em infra-estrutura, produção e assistência técnica em assentamentos, redução da jornada de trabalho de 44h para 40h sem a redução do salário do trabalhador, redução da cobrança abusiva da energia elétrica à população e substituição do atual modelo energético por
produção de energia alternativa, que é mais barata e menos impactante.

No Rio Grande do Sul, os manifestantes querem o fim da atual política neoliberal da governadora Yeda Crusius, que tem beneficiado somente as empresas de celulose com incentivos fiscais e o agronegócio, sem investir na agricultura camponesa e na reforma agrária. Querem o fim dos incentivos à monocultura do pínus e do eucalipto e para as empresas Aracruz, Votorantim e Stora Enso, mais investimentos nas políticas sociais e fim de políticas neoliberais adotadas como a enturmação e a não-realização de concurso público de professor e servidor para as escolas públicas gaúchas, salários baixos, sucateamento da UERGS (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul); não à prorrogação dos pedágios e à criação de novas quatro praças com o Programa Dulica RS; e fim da repressão policial às manifestações dos trabalhadores.