Via Campesina faz protestos em sete estados em jornada
A Via Campesina e trabalhadores urbanos da Assembléia Popular seguem com protestos da jornada de lutas para denunciar os problemas causados pela atuação das grandes empresas no país, especialmente as estrangeiras, que são beneficiadas pelo modelo do agronegócio e pela política econômica neoliberal.
Nesta quinta-feira, aconteceram protestos em Minas Gerais, , Rio da Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso, Pernambuco e audiência em Brasília. Desde terça-feira, aconteceram protestos em 16 estados. A Assembléia Popular é um espaço de organização de comunidades e articulação dos movimentos populares da cidade, ligada à Igreja Católica.
O modelo econômico baseado no capital financeiro e no oligopólio de empresas transnacionais, principalmente do setor do agronegócio e da energia, sacrifica a renda da população com o aumento do preço dos alimentos e da conta de luz.
Em Brasília, uma comissão de representantes dos movimentos da Via Campesina participou de reunião com o chefe do Gabinete Pessoal do Presidente da República, Gilberto Carvalho. A Via Campesina apresentou o documento “Programas Estruturantes De Curto Prazo”, com propostas para a agricultura brasileira superar a crise do preço dos alimentos. Carvalho garantiu que vai encaminhar a plataforma (leia no final desta mensagem) para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e para o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel.
Em Minas Gerais, cerca de 1.500 trabalhadores e trabalhadoras da Via Campesina e Assembléia Popular ocuparam a ferrovia da Vale no município de Governador Valadares, ao lado da BR 381, para exigir que a mineradora abra negociação com as 500 famílias da comunidade Pedra Corrida, que será desalojada pela barragem de Baguari, construída pela empresa na divisa dos municípios de Valadares e Periquito. Os manifestantes respeitaram decisão da Justiça e saíram da estrada de ferro no final da tarde.
A atividade denuncia também que as pautas apresentadas na ocupação dos trilhos no município de Resplendor não foram atendidas. Em março, o protesto denunciou que a construção da Barragem de Aimorés, pela Vale e Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), expulsou 1.000 famílias de quatro municípios, que não foram reassentadas. Além disso, essa barragem inviabiliza o sistema de esgoto da cidade, inundando 2 mil hectares de terra (2 mil campos de futebol).
A direção da mineradora Vale optou por não negociar com os trabalhadores que fizeram o protesto para denunciar as implicações da construção da barragem. As 500 famílias da comunidade, que podem ter seus lares inundados pela barragem de Baguari, não tiveram nenhuma resposta e não sabem como seguirão suas vidas e histórias com a obra. Mais de mil famílias da região de Resplendor que já foram desalojadas por barragem da Vale seguem sem indenizações e mais de quatro mil moradores da região sofrem com os problemas sobre a rede de esgoto.
A avaliação da Via Campesina é que a mineradora foge do debate democrático com comunidades prejudicadas pelas suas atividades e tenta usar a Justiça e a Polícia Militar para evitar que demandas legítimas sejam atendidas e que a sociedade tenha conhecimento das denúncias. As comunidades mobilizadas hoje garantem que seguem mobilizadas e não vão desistir de denunciar os crimes cometidos pela empresa.
No Rio da Janeiro, cerca de 500 trabalhadores rurais da Via Campesina e de diversas organizações populares da Assembléia Popular fazem um ato na frente da sede nacional da Vale, no final da tarde, no centro do Rio de Janeiro, para denunciar os impactos sociais negativos causados pela atuação da mineradora nos estados de Minas Gerais, Pará, Maranhão e Rio de Janeiro. Os manifestantes exigem que a empresa, que extrai recursos minerais que pertencem à União, de acordo com o artigo 176 da Constituição, garanta melhores condições de vida às comunidades onde atua e à sociedade brasileira.
No Paraná, cerca de 700 camponeses da Via Campesina, do Comitê em Defesa dos Pequenos Agricultores e entidades da agricultura familiar protestaram em frente a fábrica de fertilizantes Ultrafértil/Fosfértil, da transnacional Bunge, em Araucária, Região Metropolitana de Curitiba, na manhã desta quinta-feira (12/6), no Paraná.
Os trabalhadores rurais cobram do governo federal a reestatização da empresa Ultrafértil/Fosfértil, privatizada há 15 anos, a quebra do controle das transnacionais sobre os alimentos e fertilizantes e uma política eficaz de financiamentos para os camponeses e a agricultura familiar.
Em Goiás, agricultores da Via Campesina, trabalhadores de bairros organizados em sindicatos e na Assembléia Popular fizeram protestos em três pontos no estado de Goiás. As mobilizações acontecem em Uruaçu, onde 800 manifestantes trancaram a BR-153, estrada que dá acesso ao estado de Tocantins. Em Catalão, 600 pessoas fecharam a BR 050, que liga Goiânia.
Em Goiânia, 150 manifestantes protestaram em frente à CELG (Companhia Energética de Goiás) contra o alto preço da luz, onde entregarão autodeclarações que garantem o cumprimento de determinação da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) sobre a Tarifa Social. A autodeclaração garante que quem consome até 220 kwh/mês de energia elétrica pode receber os descontos referentes a Tarifa Social Baixa Renda na conta de luz, sem precisar estar cadastrado em qualquer programa social do governo.
No Mato Grosso, cerca de 300 lavradores da Via Campesina realizaram um ato público no município de Diamantino, no encerramento de marcha de 80 Km, que partiu de Nova Marilândia no dia 5. Os agricultores fizeram debates com a população local, em escolas e nas rádios locais.
Os trabalhadores denunciam os graves problemas sociais e ambientais que o Grupo Camargo Corrêa causa na região. O grupo, que detém 52% das terras da região, é responsável pela obras do Complexo Rio Madeira. “Marchamos para denunciar a pobreza espalhada por esse grupo que mantém um enorme poder político e econômico. Eles não distribuem empregos, gerando miséria. A região tem um alto índice de suicídio provocado por essa situação”, relata Itelvina, da coordenação nacional do MST.
No Rio Grande do Sul, cerca de 200 agricultores assentados e acampados marcharam rumo à Fazenda Tarumã, em Rosário do Sul, Fronteira Oeste gaúcha, para denunciar práticas ilegais da transnacional de celulose Stora Enso, que adquiriu milhares de hectares na área da Faixa de Fronteira, descumprindo a legislação.
Os manifestantes também criticam o lobby que a empresa vem fazendo junto aos parlamentos estadual e federal, assim como os respectivos parlamentares apoiadores, para que a Faixa de Fronteira seja reduzida a fim de legalizar a monocultura de eucalipto e pínus na região. A mesma área da Stora Enso em Rosário do Sul já foi ocupada pelas mulheres da Via Campesina em protesto no dia 8 de março.
A atividade também é em repúdio à violência sofrida pelos 1,2 mil manifestantes, do governo Yeda Crusius, que protestaram ontem em Porto Alegre e foram duramente reprimidos. “É necessário que se mantenha o direito à liberdade de expressão e de protesto, formas de expressão em qualquer democracia. Os agricultores querem que ao invés da governadora reprimir os movimentos sociais com a Polícia, que invista nos serviços sociais, gere emprego e renda”, diz em nota a Via Campesina.
Em Vacaria, três mil autodeclarações de moradores dos bairros de Vacaria e Lagoa Vermelha estão sendo entregues à RGE ( Rio Grande Energia). A entrega dos documentos é feita por cerca de 300 integrantes do MAB, pastorais sociais, e associações de bairro.
Em Pernambuco, na manhã de hoje, cerca de 500 trabalhadores rurais da Via Campesina e índios Xukuru trancaram a BR-232, na altura do município de Pesqueira, Agreste Meridional de Pernambuco, e outros 400 trabalhadores rurais bloquearam a BR-110, que liga os municípios de Inajá e Ibimirim, contra o avanço da monocultura da cana, projetos de irrigação para o agronegócio, em defesa da agricultura camponesa. Os manifestantes também protestam contra a transposição do Rio São Francisco.