Sem Terra protestam contra milícias armadas no Paraná
Em repúdio ao ataque de milícias armadas contra 90 famílias do acampamento 8 de Marco, antiga fazenda Videira, nos municípios de Terra Rica e Guairaçá, região Noroeste do Paraná, cerca de 600 trabalhadores do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) montam acampamento
e realizam Ato Público, nesta terça-feira (12/8).
Há meses, um grupo de pistoleiros, comandado por uma articulação entre fazendeiros e usineiros da região, financiada pela Usina de Açúcar Santa Teresinha Ltda vem atacando o acampamento 8 de Março diariamente, com “chuvas” de tiros contra os barracos que abrigam famílias inteiras.
O grupo também já destruiu redes elétricas, de abastecimento de água e hortas de subsistência.
O Ato Público acontece amanhã, às 13h30 na avenida São Paulo, próximo ao Banco do Brasil, no centro de Terra Rica, com a presença do Comitê de Apoio a Reforma Agrária de Maringá e região, formado por 25 entidades, autoridades e representantes de movimentos sociais do estado. Às 16h30, os participantes visitam o acampamento 8 de Março, que vem sendo alvo de ataques de pistolerios.
Para chamar atenção da sociedade local em relação a necessidade da Reforma Agrária, nesta segunda-feira (11/08), cerca de 150 trabalhadores do MST montaram acampamento no local, onde será realizado o Ato.
Diante dos evidentes riscos de tragédia na área, o MST cobra do governo estadual a designação de um grupo Especial da Polícia para investigar a atuação da pistolagem na região, e reivindicam ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) providências na desapropriação da fazenda Videira, para solucionar o impasse, já que fazenda conta com “Decreto Presidencial de Desapropriação”.
“Esperamos que as autoridades não permitam que um grupo de fazendeiros e usineiros continuem contratando pistoleiros para atacar acampamentos, e que os trabalhadores não sejam novamente vítimas fatais da inoperância das instituições estatais”, afirma denúncia, enviada ao Ministério
Público Estadual, Polícia Federal, Ouvidoria Nacional do Incra, Poder Legislativo e Secretaria de Segurança Pública do Paraná.
O Ato também denuncia a criminalização dos movimentos sociais, em curso em vários estados, principalmente por parte do Ministério Público do Rio Grande do Sul, na tentativa de dissolver o MST gaucho.
Contexto
A ocupação da fazenda Videira pelo MST, em março de 2007, impediu o arrendamento da área para Usina Santa Teresinha, o que demonstrar o interesse dos usineiros na desocupação da fazenda por parte do MST. No entanto, desde que entraram no local as famílias Sem Terra construiram
uma Escola Itinerante, de ensino fundamental, reconhecida pela Secretaria Estadual de Edudação e estão produzindo alimentos para o próprio consumo.
Até o momento já foram registrados 25 boletins de ocorrência da violência. Em um dos ataques ao acampamento, a polícia prendeu alguns pistoleiros, que estavam com armamentos de grosso calibre e afirmaram trabalhar para a Usina de Açúcar Santa Teresinha. No entanto, dias depois o grupo foi solto e nenhuma atitude tomada por parte da polícia e do Poder Judiciário. Em julho, um grupo de pistoleiros deu vários tiros contra a secretaria do MST em Terra Rica. Como o ataque foi á noite e a
casa estava vazia, ninguém foi atingido, mas as perfurações de balas, nas paredes e em um carro que estava no local, deixaram rastros da violência.
Em 04 de dezembro de 2006, a fazenda Videira foi destinada para fins de Reforma Agrária. Mas, após o decreto a fazenda foi subdividida, em quatro partes: Fazenda Leão Judá, Maranata, El Shadai e Graciosa.