América Latina se manifesta pela retirada das tropas brasileiras do Haiti

Os movimentos sociais brasileiros, entidades de direitos humanos e pastorais sociais estão engajados numa campanha de solidariedade ao povo do Haiti.

No dia 10 de outubro haverão manifestações em várias capitais brasileiras, e em outros países da America Latina. Será o dia de Solidariedade com o Povo do Haiti. Neste dia, as manifestações exigirão das autoridades brasileiras a retirada das tropas militares de invasão.

No próximo dia 15 de outubro vence a licença que o Congresso Nacional brasileiro deu ao Poder Executivo para enviar tropas. Por isso, essa permissão precisa ser renovada e aprovada pelo Congresso.

Diante disso, pedimos que cada entidade, pessoa de boa vontade, movimento, veja a melhor forma de enviar sua mensagem de protesto para os endereços abaixo.

Autoridades brasileiras

Dep. Arlindo Chinaglia, Presidente da Câmara dos Deputados [email protected] e [email protected]

Senador Heráclito Fortes – Presidente da comissão de Relações Exteriores: [email protected] e [email protected]

Ministro Celso Amorim, ministério das relações exteriores: [email protected]
Ministro da Defesa: [email protected]
Ministra da Casa Civil: [email protected]
Secretaria Geral da República: [email protected]
Gabinete pessoal do presidente: [email protected]

Também pedimos que envie uma cópia de sua mensagem para entidades do Haiti – aos cuidados de Camille- Jubileu sur Haiti [email protected] – e cópia para Jubileu Brasil [email protected]

Sugestão de mensagem
(Pode ser nesses termos, mas cada qual tome a liberdade para escrever do jeito que desejar)

Estimados Ministros e parlamentares brasileiros,

Os movimentos sociais brasileiros estão envergonhados pelo triste papel que as tropas militares brasileiras estão fazendo no Haiti.

Não se tem notícia na história da humanidade de que alguma tropa de ocupação estrangeira tenha contribuído pela melhoria das condições de vida de um povo. E muito menos sua libertação!
Imagine se houvesse tropas estrangeiras no nosso país, qual seria a posição de vocês?

A presença das tropas brasileiras, além de nos envergonhar como povo, fere duramente a soberania do heróico povo haitiano, que sofre todas as mazelas de anos de exploração.

Nosso apoio deve ser material, de intercâmbio educacional e cultural, jamais militar.
O que as Nações Unidas estão gastando por ano, (ao redor de 500 milhões de dólares) para manter as tropas no Haiti, seria mais do que necessário para resolver os problemas fundamentais do povo, de falta de energia, alimentos, moradia e educação e emprego.

Vergonhoso é saber que nossas tropas estão alojadas nas dependências de uma universidade que deveria estar cultivando o conhecimento.

Nesses cinco anos, não temos notícias de nenhuma melhoria nas condições de vida do povo haitiano. Pelo contrário.

Nós, como movimentos sociais brasileiros, nos dispomos a ajudar da forma que o povo do Haiti solicitar.

Se vocês têm alguma dúvida sobre o que pensam as organizações do povo haitiano, leiam a mensagem abaixo que recebemos.

Sabemos que o Congresso Nacional brasileiro precisa renovar a licença para a manutenção das tropas por lá.

Apelamos para vossas consciências. Retirem o quanto antes as tropas brasileiras, e ofereçam em troca ajuda econômica, professores, técnicos. Tudo isso seria mais prudente, humanitário e necessário.

Atenciosamente,

Comunicado de 20 organizações haitianas

– aos trabalhadores, aos povos irmãos,
– às organizações operárias, populares e democráticas do Caribe e do continente,
Após a passagem de quatro furacões no Haiti,
SIM à ajuda e à solidariedade internacional,
NÃO à ocupação militar do Haiti e à agressão à nossa soberania

A todas e todos, companheiros, irmãos e irmãs do continente e de outros países,

Como vocês sabem, nosso país acabou de sofrer, em menos de duas semanas, a passagem dos furacões Fray, Gustav, Hanna e Ike. Todos os estados de nosso país foram gravemente atingidos, alguns completamente devastados, causando oficialmente mais de 600 mortos e 800 mil sinistrados.

Esta situação é agravada pelo fato de que os poucos serviços públicos que se mantêm e não foram privatizados ou liquidados pelos planos de ajuste estrutural, estão agora sobrecarregados e de fato não conseguem ajudar a grande maioria da população.

Nosso povo está, então, confrontado a esta terrível situação na qual a cada dia trava-se uma luta pela sobrevivência, para obter água potável, víveres e socorro, que só chegam a conta-gotas, apesar das declarações dos chefes de Estado e das organizações internacionais. A ONU anunciou há três semanas, que uma ajuda de 198 milhões de dólares seria oferecida para o Haiti, e a instituição lamenta que, apesar dos compromissos de ajuda assumidos pelos governos, somente 2% desta soma efetivamente chegou ao país!

Quanto ao sr. Préval, presidente do Haiti, que desde o início de seu mandato continuou a política de privatização das empresas e dos serviços públicos, demonstra hoje, nesta situação, uma grande incapacidade e uma real paralisia para tomar as medidas de urgência em relação à população exigidas pela situação dramática que atravessa nosso país. Saibam que nesta situação na qual falta de tudo, na qual a população vive em condições de extrema dificuldade, Préval continua a pagar as prestações da dívida externa do Haiti aos bancos internacionais: 1 milhão de dólares que lhes são entregues a cada semana, considerando-se que 80% desta “dívida” foi contratada sob os regimes dos ditadores Duvalier pai e filho, Papa Doc e Baby Doc! Um milhão de dólares por semana que permitiriam comprar e distribuir toneladas de arroz, de água, de remédios etc…

Não! Esta dívida não é do povo haitiano! Exigimos que não saia mais nenhum dólar de nosso país para os cofres dos bancos e das instituições financeiras internacionais. O dinheiro dos haitianos deve permanecer com o povo haitiano, que precisa dele mais do que nunca. Nós, organizações haitianas, nos dirigimos ao governo e lhe pedimos a anulação pura e simples desta dívida de 1,3 bilhão de dólares.

O governo, no seu imobilismo e incúria, esconde-se atrás da presença de organizações humanitárias e, sobretudo, dos militares da MINUSTAH, encarregando-os de encaminhar os víveres e o socorro. Lembremos que foram George Bush e o governo estadunidense que decidiram e organizaram, há 4 anos, esta nova ocupação do Haiti, servindo-se do anteparo da ONU para impor ao Haiti um exército de ocupação de 9.000 soldados. Pois então, agora que houve os furacões, eles teriam se tornado subitamente salvadores e benfeitores do povo haitiano?

Se nos dirigimos às organizações operárias e populares, e a todos os outros povos pedindo ajuda e solidariedade com o povo haitiano, nós, em contraposição, não pedimos nada aos que ocupam o nosso país com armas na mão, mesmo que hoje tenham sacos de arroz sobre os ombros.

O Haiti não está em guerra com ninguém. Que os 40 governos que mantêm estes regimentos de ocupação, que custam anualmente 540 milhões de dólares (cifra publicada no site da MINUSTAH), retirem imediatamente seus regimentos, e, se quiserem verdadeiramente ajudar o povo haitiano, utilizem esses 540 milhões de dólares para substituir seus soldados por bombeiros, médicos, pessoal de segurança civil, técnicos, operários para reconstruir as estradas e toda a infra-estrutura destruída etc.

Nós, abaixo-assinados, organizações sindicais, políticas e populares haitianas, dirigimos a todos vocês, irmãs e irmãos de todos os países, um vibrante e urgente apelo de solidariedade, pela ajuda ao povo haitiano, para que ele possa conseguir reconstruir o país na paz, sem ocupação militar de qualquer espécie que seja, com total soberania.

Nosso país, que a seu tempo, soube dar asilo e ajuda a Simon Bolívar, bem como a outros líderes da luta contra a colonização espanhola, vai comemorar em 17 de outubro próximo a festa nacional Jean Jacques Dessalines, um dos pais fundadores da nação haitiana. Nessa mesma semana, em 15 de outubro, os governantes de seus países e de todos os que possuem tropas na MINUSTAH devem decidir se renovam pelo tempo mínimo de um ano o mandato e a presença desses soldados no solo do Haiti.

Nós, organizações haitianas, nos reuniremos em 10 de outubro, durante uma manifestação diante da Presidência da República, em Porto Príncipe, para exigir:
– A anulação da dívida! Nem mais um tostão para os bancos internacionais. Todos os recursos de estado devem ir para o plano de reconstrução do país.

– Paz, democracia, respeito à soberania do povo haitiano: retirada imediata das forças estrangeiras da MINUSTAH, o presidente Préval não deve pedir a renovação do mandato.

A vocês, irmãos e irmãs do Brasil, do Equador, do Chile, da Bolívia, do Uruguai e de outros países do continente, a todas as organizações operárias, populares e democráticas desses países, do Caribe e do continente americano, nós dirigimos um vibrante e urgente apelo:

Questionem seus governos, peçam aos presidentes da República de seus países, à Lula, Bachelet, Correa, Kirchner, Morales e Vasquez, para que não renovem o mandato das tropas de seus países e retirem imediatamente seus soldados do solo do Haiti, e que os substituam por pessoal civil na área da saúde, das comunicações, da construção etc. para ajudar o povo haitiano a reconstruir o país.

Façamos assim, juntos, do próximo 10 de outubro uma jornada de mobilização pela ajuda e a solidariedade internacional dos trabalhadores, pelo direito dos povos do continente à autodeterminação, pelo direito de viver em paz em nações soberanas.

Porto Príncipe, 24 de setembro de 2008

Organizações haitianas abaixo-assinadas:

CATH – Central Autônoma dos Trabalhadores Haitianos, Louis Fignolé St. Cyr, secretário-geral
POS – Partido Operário Socialista Haitiano, Marc Antoine Poinson, secretário de Organização dos Departamentos
FESTREDH – Federação Sindical de Eletricidade do Haiti, Dukens Raphaél, porta-voz
KORTA – Fednel Monchery, coordenador-geral
GIEL – Grupo de Iniciativa dos Professores do Ensino Secundário, Léonel Pierre, secretário-geral
ADFEMTRAH – Seção das Mulheres da Cath, Julie Génélus, secretária-geral
GRAHLIB – Grande União por um Haiti Livre e Democrático, Ludy Lapointe, coordenador-geral
FOS – Federação dos Operários Sindicalizados, Raymond Dalvius, diretor de Relações Públicas
GRAMA – Grupo de Reflexão e Ação por uma Melhor Alternativa, Joseph Varnel, coordenador-geral
KONOSPOL – Coletivo Organização Sócio-político, Lukem Royel
CONAFTAV – Coalizão Nacional das Mulheres Trabalhadores, D. Benoit
KJKFF – Konbit Jen K. Fou Fey, John Laurenvil
Zafé Fanm – Darline Sensuel
KOSEFANM – Elisabeth Augustin
KOPDA – Konbit Peyzan Pou Developman, Ansajo Réginal Legeme
FANM GRAMA – Caroline Gaspard
AJAM/A – Associação dos Jovens Progressistas de Marmelade, Fénélus Sinel, tesoureiro-geral
CONAREM – Coordenação Nacional Cidadã pela Reivindicação das Massas, Jean Lesly Préval, secretário de organização
ANAMMAPME – Jean Oscalhome Florvil
MPPG – Jean Phalière Rezil